São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Casal de idosos acusa a PM de tortura

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Um comerciante de 63 anos e sua mulher, uma professora de 52 anos, foram torturados com choques elétricos, chutes, socos e golpes de pedaços de pau durante três horas. Eles acusam cerca de 20 policiais militares paulistas.
Ontem, o secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, 70, disse que três PMs já identificados pelo casal -o tenente Maurício de Araújo, o cabo Paulo Zanzini e o soldado Antônio Campos- foram afastados e que foi aberto inquérito para apurar o caso. Os PMs negam a acusação.
A tortura teria ocorrido no último dia 18 na casa do comerciante, no Jardim Nova Tietê (zona leste de SP). Ontem, Messias Francisco de Souza e Dirce Maria Anacleto exibiam marcas no corpo.
Souza está ouvindo e falando com dificuldade. "Foram os tapas que deram nos ouvidos." Está com os dedos sulcados. "Foram os fios que passaram em torno deles para dar os choques."
Dirce tem hematomas nas costas e ferimentos perto dos olhos e da boca. "O tenente me deu um murro quando pedi para ele não quebrar a minha televisão."
Tudo, segundo Souza, porque os policiais desconfiavam que ele havia matado um PM. No último dia 15, um corpo foi achado no Itaim Paulista (zona leste).
Segundo o casal, fato confirmado pela Polícia Civil, alguém ligou para a PM dizendo ter achado o corpo -depois identificado como sendo do soldado da PM Ricardo Silva Nabuco de Souza.
Quem ligou para a PM disse ser o comerciante e forneceu o telefone de Souza. Os policiais teriam desconfiado que a pessoa que ligou para comunicar o crime era, na verdade, o autor do assassinato.
Dirce estava no térreo do sobrado, quando três homens pararam um Gol em frente à casa. "Desceram com as armas nas mãos e começaram a me bater", disse.
O comerciante ouviu os gritos da mulher e apanhou uma pistola. "Dei três tiros. Pensei que eram bandidos." Em seguida, disse ter ligado para o 190 (emergência policial). "Pedi socorro à PM, pois estavam invadindo minha casa."
Vários carros da PM chegaram ao local. "Abri a janela e apontaram uma metralhadora. Então percebi que havia algo errado." Enquanto Dirce era mantida no térreo, onde teria apanhado, Souza foi levado para o primeiro andar.
Disse ter apanhado com pauladas e socos no banheiro. No quarto, envolveram seus dedos com fios elétricos, segundo afirmou. Conectavam o fio por alguns segundos no chuveiro de forma que ele recebesse os choques.
"Queriam que eu confessasse." No meio da noite, os PMs levaram o casal ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) sob a alegação de que o comerciante era foragido da Justiça.
Souza foi processado na década de 70, mas o caso já foi encerrado. Desconfiados, os policiais do DHPP mandaram o casal fazer um exame para constatar as lesões.

Texto Anterior: 90% das presas têm bacilo da tuberculose
Próximo Texto: Erosão atinge mais SP, diz estudo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.