São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Pagando para comprar

MARIA ERCILIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Microsoft deu um passo inédito na semana passada: autorizou pela primeira vez a venda de alguns de seus programas via Internet. Distribuidores colocarão programas como o Word, a planilha Excel e o Flight Simulator à disposição na rede, pelo preço das lojas.
Pode parecer que não há nada de muito original em vender software por computador. Mas a grande diferença em relação a outros produtos é que software pode ser entregue diretamente pela Internet. O comprador liga o computador na "loja" e o programa é transmitido em algumas horas. Ou seja, é uma verdadeira "compra pela Internet" e não um telemarketing por computador.
Parece uma grande vantagem para o consumidor. Comprar em casa, a qualquer hora, sem enfrentar trânsito etc. Só que veja o que a Microsoft economiza com isso: disquetes, embalagens, esquema de distribuição, pontos de venda... O custo se reduz à produção do programa, mas o preço continua igual para o comprador.
A Microsoft aqui é apenas um exemplo. Poderia ser uma gravadora vendendo música por computador em vez de prensar discos. Os custos de distribuição caem tanto que seria lógico o preço cair. Mas não cai...
Faz sentido que tantas empresas estejam fazendo tanto esforço para que as transações por computador funcionem: isso pode representar um canal de distribuição baratíssimo. Claro que nem todas as mercadorias podem ser transmitidas por modem. Até segunda ordem, consumidores ainda tem de comer, e não há hambúrguer que passe pela linha telefônica.
Essa equação ainda tem uma parte oculta: quem na verdade vai pagar o custo de distribuição é você: vai comprar o computador, os programas para operá-lo, gastar tempo aprendendo a mexer com ele, pagar a linha e a ligação telefônica que o liga à loja. Além disso tudo, vai pagar o acessso à Internet.
Imagine uma empresa de software de grande porte, num mundo imaginário, mas possível, em que praticamente todas as compras são feitas por computador: suas únicas despesas são a produção do software e o marketing, sua plataforma de vendas é o mundo, seu horário de trabalho é 24 horas.
Para dar uma idéia da dor de cabeça que é distribuir um produto em nível mundial hoje: a Microsoft começou a comprar disquetes para o Windows 95 um ano antes do lançamento.
É uma conta infernal: diminui o número de empregos, já que não é necessário mais embalar produtos, fabricar caixas, ficar no balcão da loja. Por outro lado, custos das grandes empresas são empurrados para o cliente.
Pode ser até desejável e interessante acessar seu banco e seu supermercado por computador. Mas produtos que custam mais barato para a empresa precisam ser vendidos por um preço menor também.

Rede de Babel
A Globalink (http://www.globalink.com), empresa que vende software de tradução, anunciou que vai começar um serviço de tradução gratuito na Web daqui a dois meses. As pessoas poderão enviar até uma página de texto (cerca de três mil bits) para a página de Web da Globalink, que poderá ser traduzida do inglês para o francês, alemão, espanhol e italiano e vice-versa. Acima de uma página de tradução, a Globalink vai cobrar por palavra.
O programa propriamente dito, Barcelona, só será comercializado em 96, ao preço de US$ 895. A Globalink tem também um acordo com a Netscape (quem não tem?) e com o serviço on line francês Minitel, para oferecer traduções por computador.
Alguém percebeu que não vai dar para falar só inglês na Internet.
O endereço eletrônico de NetVox é netfolha sol.uniemp.br

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