São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BH lança campanha por índios maxakalis

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e entidades européias ligadas à questão indígena lançaram ontem em Belo Horizonte uma campanha internacional pela regularização do território dos índios maxakalis, que vivem no vale do Mucuri, em Minas Gerais.
A campanha tem apoio da Anistia Internacional e chega ao Brasil depois de ter sido lançada há pouco mais de um mês na Áustria e na Alemanha. Será organizada também no Canadá, Holanda e Itália.
Os 710 índios maxakalis vivem numa área de 3.145 hectares no município de Bertópolis (822 km a nordeste de Belo Horizonte). Noventa por cento da população fala apenas a língua maxakali.
Todo o conflito está concentrado no fato de a área dos maxakalis ter sido dividida ao meio.
Entre as duas áreas indígenas -Água Boa (2.412 hectares) e Pradinho (1.852 hectares)- estão 13 fazendas, que ocupam uma área de 1.852 hectares.
Luiz Lôbo, coordenador em Minas do Cimi -órgão da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil)-, disse que a disputa pela terra ameaça os índios.
Os maxakalis são nômades (se deslocam de tempos em tempos). Em uma dessas movimentações, nos anos 50, foram surpreendidos, ao retornar, com a "venda" de parte das terras para fazendeiros.
Segundo Lôbo, os responsáveis pela venda ilegal das terras da União foram funcionários do extinto SPI (Serviço de Proteção ao Índio), substituído pela Funai (Fundação Nacional do Índio).
"Esse erro nunca foi reparado e há muito tempo os índios são prejudicados. Nos últimos oito anos, sete índios foram assassinados na região e nada foi feito", diz Lôbo.
O território dos maxakalis já foi demarcado três vezes (1941, 1956 e 1993). Em 1972, o governo de Minas concedeu título de propriedade das terras aos fazendeiros que ocupam a área intermediária.
A divisão da área pelas fazendas, segundo Lôbo, tem impedido que os índios se desloquem dentro da sua reserva.
O objetivo da campanha internacional é cobrar do governo brasileiro uma ação definitiva, que inclua o despejo dos fazendeiros.
Em março de 96, está prevista a visita de um representante do Parlamento Europeu à área dos maxakalis. Um abaixo-assinado que está circulando por vários países será entregue ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na primeira metade deste século, os maxakalis eram mais de 3.000 índios. Nos últimos 14 anos, 49 morreram por assassinatos e doenças, entre as quais o cólera. Os maxakalis vivem da pesca e da cultura do milho, feijão e mandioca.

Texto Anterior: Confusão; Golpe de mestre; Nome trocado
Próximo Texto: Tribos vão criar conselho
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.