São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Rita Lee dispensa Orson Welles

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

"Fico profundamente implicada com o Orson Welles, acho ele um chato, um saco" diz Rita Lee, 47. "Se me perguntam daquele filme, eu grito: 'Cidadão Quem???' ".
Isso não significa que os interesses da roqueira-mãe do Brasil passem longe do cinema. Ao contrário. Rita vê em média quatro filmes por dia, entre o vídeo e a TV a cabo. Gasta mais tempo de seu dia com cinema que com música. "Levanto mais cedo pra ver mais filmes", conta.
"Ela vê, no telão que temos em casa, os filmes que nossos filhos vêem, os que eu vejo e os que ela vê", diz Roberto de Carvalho, eterno marido/namorado de Rita.
A filmografia do diretor-cult do underground norte-americano John Waters ocupa lugar de destaque nas preferências da dupla, de "Female Trouble" e "Pink Flamingos" ao recente "Mamãe É de Morte", com Kathleen Turner.
"Kathleen Turner é Kathleen Turner", entusiasma-se Rita.
Roberto vibra com o travesti Divine, ícone máximo do universo pop do cineasta. "Dizem que os travestis são a personificação do ego feminino do homem. Acho que me realizo um pouquinho nos seus filmes", diz.
Rita diz se lembrar nitidamente das primeiras sessões de cinema: "Passava as férias em Rio Claro, onde meu tio tinha dois cinemas -tem até hoje. Entrava de graça e ainda pegava bala", diz.
Desta fase, o primeiro filme marcante é "Quatro Irmãs" (Little Women), com Katherine Hepburn, refilmado recentemente como "Adoráveis Mulheres".
"Via os filmes de Hollywood querendo ser sempre as atrizes, fazendo penteado igual", conta.
São da época também as lembranças dos filmes de Walt Disney: "Chorei loucamente vendo 'Dumbo' e 'Peter Pan'. Subi no terraço de casa aos sete anos, achando que era a Wendy e gritando pro Peter Pan vir me buscar".
As primeiras lembranças de Roberto são mais difusas. "O que mais me marcou no início foram as chanchadas da Atlântida, principalmente as com a Violeta Ferraz e o Zé Trindade", diz.
Glauber também está na pauta de Rita, mas com ressalvas: "Eu gosto, mas tenho um pouco de medo". Medo lhe causou também "Laranja Mecânica" (71), de Stanley Kubrick, um de seus cineastas prediletos. "Fiquei assustada, tinha pesadelos horríveis."
Quanto a "2001, uma Odisséia no Espaço" (69), do mesmo diretor, Rita diz que assistia em sessões contínuas aos 16 anos, alternando as "viagens" do filme com lanches e ácido lisérgico.
O cinema não é, hoje em dia, hábito da dupla. Rita só saiu de casa para enfrentar a tela grande uma vez, em 1995, para ver "Carlota Joaquina", de Carla Camurati. "Mas é porque não gosto de sair de casa, tenho preguiça", diz Rita.
Roberto, ao contrário, se ressente de ir pouco ao cinema: "Tenho um pouco de impaciência com o vídeo, prefiro a telona".
Quanto a gêneros, a dupla diverge. Ele não dispensa um bom drama; Rita prefere ficção. "Adoro um lobisomem, um ET. Procuro como louca 'O Dia em que a Terra Parou' nas locadoras, mas nunca consigo achar". O filme de Robert Wise é outro dos prediletos dela, com "Juventude Transviada" e "O Mágico de Oz".
Restrições a dupla tem poucas. Roberto odeia Jim Carrey (que Rita adora): "Insuportável". Rita dispensa os filmes pornô (que Roberto adorava quando era menino): "Não me dão tesão. Agora a gente gosta mais pela Internet".
Em outro ponto concordam: não morrem de amores por westerns. "Eles tratam mal os animais", diz Roberto. "O problema de faroeste é que sempre tem uma hora que o cavalo cai", emenda Rita.

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