São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995 |
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'Pequenos horrores' é um painel da Itália
CARLOS REICHENBACH
Lembra, em vários momentos, os primeiros filmes de Pasolini e a refinada "simplicidade" de Roberto Rossellini. Ao recuperar a poética rude dos grandes mestres da península, Tonino Di Bernardi subverte os artifícios da narrativa tradicional com a mesma radicalidade marxista e erudita de um Jean Marie Straub. Trata-se de uma dramaturgia que pressupõe um espectador atento, culto e disposto a se deixar levar pela atmosfera da obra. Cada um dos "capítulos" visa investigar o prosaico à luz dos clássicos trágicos. Exemplos: em "Titanic", uma mulher isolada em uma cozinha alagada pensa em Ofélia e na sua morte por água. Em "Monaca", uma jovem freira questiona a sua vocação, tendo como referência um texto de Kleist. Esta prospecção trágica do cotidiano da classe pobre italiana é a marca do estilo despojado de Di Bernardi. Elettra Em seu longa-metragem anterior, "Elettra", ele faz uma releitura de Sófocles com atores não profissionais, tendo como cenário a campina desolada de Casalborgone, onde a ação está no texto, e o teor épico atrás de rostos comuns. Di Bernardi surpreende porque adota a pobreza também como meio de produção, onde a falta de dinheiro é suprida pela exuberância da cultura. Lições apreendidas em sua convivência com Jonas Mekas e o Living Theatre. O fato de, durante seis anos ter se isolado numa província agrícola, onde lecionou literatura numa escola de nível médio, marcou profundamente a sua dramaturgia. "Pequenos Horrores" é um inventário poético que busca desesperadamente detectar Orfeu, Fedra, Enrique IV, Eurídice ou Ricardo II entre os povos amantes da Sardenha, da Toscana ou de Roma. É o cinema, como a música, a pintura, o teatro, e o retrato aspirando à vida. Texto Anterior: 'Bons Homens' é viagem árida Próximo Texto: Rita Lee dispensa Orson Welles Índice |
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