São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Hipocrisia teológica

Menos do que de teologia, pretende-se, neste editorial, falar de hipocrisia. O horror pelas imagens católicas manifestado pela Igreja Universal do Reino de Deus, que chegou a queimar relíquias em ato dirigido pelo próprio Edir Macedo este fim-de-semana em Buenos Aires, pode até ter justificativa teológica e é compartilhado por outras seitas protestantes mais sérias.
A principal passagem bíblica em que se baseiam está no Êxodo (20,4): "Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no céu, e do que há embaixo na terra, nem de coisa, que haja nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto: porque eu sou o senhor teu Deus...".
Os católicos dizem que não é bem assim. Aliás, a hermenêutica bíblica permite quase tudo.
O fato importante é que, apesar de aferrar-se tão aguerridamente àquela passagem do Êxodo, a Universal utiliza sim imagens em seus cultos. Na cerimônia das 16h de domingo na capital argentina o pastor Marques fez com que cerca de 600 fiéis se enfileirassem, fizessem suas doações, passassem a mão na Bíblia e depois tocassem uma estranha pedra marrom opaca.
Num outro culto, este presenciado pela Folha, o bispo Marcus Vinícius Vieira benzia espadas de plástico verde que, segundo ele, simbolizavam a proteção divina.
Já no discurso de Macedo, segundo a Folha pôde apurar, ele teria afirmado que os fiéis da Universal só pediriam ajuda a uma imagem se fossem loucos, idiotas ou malucos.
Definitivamente, alguém está ficando maluco; e não é Edir Macedo, cujos negócios aparentemente vão muito bem.

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