São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995 |
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Do silêncio à gritaria vã
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - O problema da democracia é que ela só consegue agradar a todos no comecinho, na fase do exercício do voto. Na hora da contagem os perdedores sempre tendem a considerar o sistema uma porcaria.Tome-se o exemplo dos servidores públicos. Estavam adorando as reuniões da Comissão de Constituição e Justiça. Esperavam impor vergonhosa derrota ao governo na votação do projeto de reforma administrativa. Ontem perderam o primeiro round da briga e, com ele, a esportiva. Barulhentos, beberam a mãos ambas na fonte da má-criação. Entre um e outro impropério chamaram parlamentares de ladrões e compararam Fernando Henrique a Fernando Collor. Esqueça-se, por desimportante, a falta de classe dos manifestantes. Debite-se o espasmo da corporação à comoção da derrota. O mais relevante agora é perguntar o seguinte: por que demorou tanto a soar o trombone dos servidores? Há outras indagações: onde estavam os pulmões do funcionalismo que não gritaram no instante em que o Estado brasileiro começou a ser estuprado pelas nomeações políticas? Por que mantiveram os olhos cerrados enquanto a politicalha empurrava janela adentro os seus apaniguados? O protesto da burocracia chega tarde, eis o que queria dizer. As repartições estão irremediavelmente contaminadas. O silêncio cúmplice teve um efeito nefasto: nivelou bons servidores a pilantras hediondos. Na maioria dos Estados a farra das nomeações aniquilou os governos. Atingiu-se um estágio em que o contribuinte paga um horror de impostos, os servidores recebem salários de fome e a população é contemplada com serviços públicos indecentes. A novela não acabou, é bom que se diga. No intervalo de suas viagens internacionais, em suas passagens pelo Brasil, Fernando Henrique terá trabalho para arrancar do plenário do Congresso a quebra da estabilidade. Recorde-se que a Comissão de Constituição e Justiça é apenas o primeiro estágio da longa tramitação da proposta. A vitória apertada de ontem é prenúncio de muito barulho. Texto Anterior: Tão rindo do quê? Próximo Texto: Garrincha e Mozart Índice |
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