São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Figueroa destaca beleza do preto e branco

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Erramos: 28/10/95
O debate com o diretor de fotografia mexicano Gabriel Figueroa acontece amanhã, às 17h, no auditório do MIS, diferentemente do que foi publicado às págs. 5-1 e 5-5 ( Ilustrada) de ontem. Os convites podem ser retirados no MIS a partir das 14h de hoje.
Gabriel Figueroa, 88, é o mais importante e original diretor de fotografia no cinema da América Latina. Fez 25 filmes com o também mexicano Emilio Fernandez, sete com Luis Buñuel e três outros com os norte-americanos John Huston e John Ford.
Ele participa amanhã, às 17h30, no MIS (Museu da Imagem e do Som), de debate promovido pela Folha e pela 19ª Mostra Internacional de Cinema.
Leia os principais trechos de sua entrevista.

Folha - O computador hoje retrabalha a imagem, modifica as cores, produz efeitos especiais. Como o sr. vê todos esses recursos?
Gabriel Figueroa - São coisas que nada têm a ver com a arte fotográfica. São meros truques mecânicos.
Folha - Praticamente, não se faz mais hoje filmes em preto e branco. Há nisso alguma perda para a sutileza do cinema?
Figueroa - Eu, pessoalmente, nunca cheguei a possuir um estilo próprio com a fotografia a cores. Minha linguagem está no preto e branco, que é cem vezes mais difícil. Só com o preto e branco se obtém na tela o volume da imagem.
Folha - Truffaut disse que preferia filmar em preto e branco porque, com as cores, a feiúra entrava por todos os lados.
Figueroa - Concordo com ele. Cito sempre o exemplo de Picasso na pintura. Ele, um mestre das cores, usou o preto e o branco para seu único mural político, "Guernica". Com isso, obteve maior densidade, mais força.
Folha - Com que diretor europeu o sr. gostaria de ter trabalhado?
Figueroa - Estive a ponto de filmar com Luchino Visconti. Em 1948, ao se preparar para rodar "A Terra Treme", ele demonstrou vontade de me ter como fotógrafo. Mas pediu que o contato fosse feito por um assistente seu, um argentino, que aparentemente não conseguiu me localizar. Fiquei sabendo disso apenas anos depois.
Folha - Em suas memórias, Luis Buñuel diz que o cineasta mexicano Emilio Fernandez sempre andava com uma pistola na cintura. É verdade?
Figueroa - Ele andava sempre armado, mas com a pistola numa maleta. Chegou certa vez a matar um camponês que disse a ele não ter gostado de um de seus filmes. Chegou a ser preso por isso. Mas só era violento quando bebia. Sóbrio, era um homem bastante amistoso, encantador. Nunca tive com ele uma única briga, uma única discussão violenta.
Folha - Buñuel também diz que, ao filmar "Nazarin" (1958), o sr. montou o enquadramento de uma cena com grande densidade estética e ele virou a câmara para o lado oposto, sob o argumento de que se interessava apenas pela feiúra.
Figueroa - Esse pequeno episódio foi bem mais anedótico que real. Eu e Buñuel sempre nos demos muito bem e nunca ocorreria entre nós algo de parecido a um conflito.
Folha - Que mudanças ocorreram em sua carreira quando o sr. ganhou, em Cannes, o prêmio de melhor fotografia, em 1946?
Figueroa - Foi apenas uma premiação importante, com "Maria Candelaria", aliás dirigida por Emilio Fernandez. O Festival de Cannes já era muito importante.
Folha - Que relação o sr. tem com o cinema brasileiro?
Figueroa - Não somos nós, os mexicanos, que decidimos que filmes brasileiros deveremos assistir aqui. São as grandes empresas distribuidoras. Como elas quase nunca programam filmes de seu país, meu contato com esse cinema é fragmentado, bissexto. Essa questão da distribuição é muito séria. Um de meus filmes de 1945 passou no Japão só em 1980.
Folha - Como o sr. vê hoje o cinema mexicano?
Figueroa - Como um setor da cultura em dificuldades. Com o passar dos anos, acabaram sendo fechadas três de cada quatro salas de exibição. Existe o mercado dos filmes para a TV, mas eles são feitos com orçamentos irrisório e isso se reflete na qualidade.
Folha - Como foi sua experiência com Gregg Toland, o fotógrafo com quem Orson Welles filmou "Cidadão Kane"?
Figueroa - Quando em meados dos anos 30 procuraram me contratar, no México, como diretor de fotografia, respondi que não dominava essa técnica e então me propuseram fazer um estágio com alguém no exterior.
Recebi uma carta de apresentação para Gregg Toland. Ele permitiu que eu o visse em ação tanto quanto o desejasse. Foi para mim um grande mestre. Foi também ele quem recomendou meu nome para trabalhar com John Ford em "Domínio dos Bárbaros" (1947).

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