São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995 |
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"Água Fria" introduz rebeldes sem causa e efeito
INÁCIO ARAUJO
Partiu para a direção em meados da década passada, seguindo um roteiro em outros tempos corrente na revista francesa (de lá saiu gente como Godard e Truffaut). Ao contrário de seus célebres antecessores, Assayas não tem a pretensão de mudar o cinema. Mas tem a de encontrá-los, o que não é pouco. "Água Fria" é uma história que se passa em 1972 (quando o próprio cineasta viveu sua adolescência) e envolve dois jovens, filhos de pais separados. Assayas busca um registro estritamente realista desde o início, quando os jovens Gilles e Christine roubam uma loja de discos. Os dois são de certo modo diferentes. Gilles tem o afeto do pai. Christine é internada pelo pai em um asilo de alienados. Mas não é isso que define o quadro do filme. O amor paterno não impedirá Gilles de rasgar uma poltrona de metrô, por exemplo. O que vemos são rebeldes sem causa ou efeito. Eles se juntam em grupos, mas grupos intransitivos, incapazes de contato com o outro. Existe, separando jovens e adultos, uma muralha irremovível e que se encontra além de explicações (psicológicas, sociológicas etc.). Ela existe quase como fato físico, está no ar que se respira. Os jovens sem causa são dotados de um vazio que também esvazia o mundo precário, artificial, de seus pais. O sentido da vida -mantido a duras penas- escapa aos personagens quando entram em contato. Mas não há qualquer transcendência nisso: nada desemboca em nada. O que existe é o sofrimento. Um longo sofrimento, uma crucifixão. "Água Fria" é um constante cruzamento de linhas e idéias incomunicantes. É um duro e lindo filme do horror e da dor na adolescência. Filme: Água Fria Produção: França Direção: Olivier Assayas Elenco: Cyprien Fouquet, Virginie Ledoyen Onde: hoje, às 19h, no Centro Cultural São Paulo; legendas em inglês Texto Anterior: Figueroa destaca beleza do preto e branco Próximo Texto: 'Entre o Amor e Glória' traz arte do kung fu Índice |
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