São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Cristovam apóia demissões

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), usa o mesmo discurso do presidente Fernando Henrique para defender o fim da estabilidade dos funcionários públicos, aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Cristovam, o governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz, e o deputado José Genoino (SP) formam o grupo do PT que assumiu posição contrária à da bancada na Câmara.
"É preciso fazer uma reforma, admitindo a quebra da estabilidade como ela é hoje", afirmou o governador. Mesmo com a decisão fechada do PT em defesa da atual estabilidade, ele afirmou que "muita gente" no partido concorda com a sua opinião. Segundo ele, essas pessoas não assumem a posição por uma "questão tática".

Folha - A estabilidade no funcionalismo público, tal como existe hoje, tem que sofrer que tipo de alteração?
Cristovam Buarque -Tem de ser ajustada. As pessoas que defendem a estabilidade dizem ser possível hoje demitir o servidor relapso. Eu acho que não. A estabilidade atual permite que o médico faça o que quiser com o paciente. Se ele matar o doente, ele vai preso, mas não é demitido. Falo isso há dez anos. Mas é preciso virar governador para ser ouvido.
Folha - Qual é o erro de quem defende a estabilidade?
Cristovam Buarque - Um dos erros é defendê-la como um direito do servidor. A estabilidade tem de ser um direito da população. Assim, por meio da estabilidade, ter um serviço que não dependa do empreguismo, que não permita ao governador admitir e demitir.
Folha - O que o sr. acha da posição do PT?
Cristovam - Já vi muita gente do PT defender a minha posição sobre estabilidade, mas acha que esse não é o momento, taticamente. Defendo que um partido não pode ficar preso a táticas nem a datas eleitorais, um partido tem de ter uma concepção de futuro, para onde quer levar o país.
Folha - O sr. tem se encontrado com o presidente Fernando Henrique Cardoso? Houve alguma conversa ou telefonema sobre reforma administrativa?
Cristovam - Nenhuma. Eu sou o governador que menos vezes pediu audiências ao presidente. Só tive duas. Não preciso de mais. Não uso o presidente. Ele é uma figura muito importante para procurá-lo a toda hora. Falo com os ministros.
Folha - Existem Estados com 100% da arrecadação comprometida com a folha de pagamento. No DF, o percentual é de 81%. O sr. não acha que esse excesso precisa ser cortado?
Cristovam - Na maior parte dos casos não precisaria do fim da estabilidade. No DF, temos condições de demitir 10 mil de uma vez sem tocar na estabilidade, mas nós precisamos deles. Claro que seria muito melhor se fosse menos que isso. Mas basta esperar a aposentadoria, as demissões próprias, que isso reduz bastante.

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