São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crise do PT é o tema na festa de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise entre a direção e os grupos de esquerda do PT moveu a festa em comemoração aos 50 anos de Luiz Inácio Lula da Silva, sexta-feira à noite em São Bernardo do Campo (SP).
Cerca de 1.200 pessoas compraram convites de R$ 20,00 para o jantar no restaurante São Judas Tadeu, um dos que formam a "rota do frango com polenta" no ABC paulista.
Lula foi saudado pelo locutor da festa, seu secretário Espinoza, como representante da "República Socialista Metalúrgica de São Bernardo". Em seguida, foi brindado com trecho do "Sermão da Montanha" lido pelo amigo frei Betto.
O presente mais valioso veio de um grupo de empresários amigos: uma linha de um telefone celular, acompanhada pelo aparelho, duas baterias e um recarregador.
"Um homem como ele precisa de um celular", disse o empresário Edson Ferreira. A cena do ex-líder metalúrgico sendo presentado por empresários foi testemunhada por vários companheiros de Lula no início do PT e que, depois, abandonaram o partido.
Entre os ex-petistas que foram festejar o cinquentenário de Lula estavam os ex-prefeitos Jacó Bittar (Campinas) e Maurício Soares (São Bernardo do Campo).
O secretário paulista Walter Barelli e o ex-deputado Sigmaringa Seixas (PSDB-DF) eram os únicos tucanos presentes.
Lula aproveitou a festa para tentar superar o arranhão que causou na sua relação com o governador petista do Distrito Federal, Cristovam Buarque, ao chamá-lo de "puxa-saco" por defender o fim da estabilidade para o funcionalismo público.
Com senso de marketing, o aniversariante abraçou longamente Buarque, para que o gesto fosse registrado pelos fotógrafos.
O Lula dançarino manifestou-se pouco antes do discurso de agradecimento. Com a mulher, Marisa, Lula mostrou alguma desenvoltura ao dançar sambinhas de ocasião. Foi menos feliz no discurso.
"A Marisa teve a sorte de casar com esse garanhão de 50 anos", brincou, para desagrado das feministas presentes. Antes, Lula ensaiou enveredar por um discurso emocional ao citar a presença de parentes e amigos de infância.
Entre garfadas de camarão, os petistas mais ilustres angustiavam-se com a falta de solução para a crise do partido.
Pouco antes do início da festa, fracassara uma sondagem do grupo do presidente do PT, José Dirceu, para convencer Cândido Vaccarezza a abrir mão da secretaria-geral do partido.
O cargo é reivindicado pelas alas de esquerda e extrema esquerda do espectro petista.
O Diretório Nacional do PT está reunido desde ontem em São Paulo. O assunto mais importante da pauta é a crise entre os ortodoxos e a atual direção.

Texto Anterior: SP tem terra para assentar 67 mil famílias
Próximo Texto: Cristovam apóia demissões
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.