São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Mulheres viram 'santas' perto do namorado

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas são dissimuladas. Fazem cara de anjo, só bebem suco de frutas, falam baixo e criticam mulheres mais ousadas, mas só quando estão com eles. Uma escapada é suficiente para beber todas, falar alto (incluindo palavrões), usar roupas decotadas e não tirar uma expressão sexy do rosto.
"Sempre fiz média com o namorado", diz a corretora Sandra (nome fictício), 27. Seu mais longo relacionamento, que durou quatro anos, não fugiu à regra. "Com ele, não usava nem perfume nem batom. Com as amigas, me vestia como uma prostituta", diz.
A "dupla face" servia para os palavrões (que ele não admitia), as conversas com os amigos e saídas noturnas. "Cheguei a mandar beijos para um outro cara, dentro de um bar, quando meu namorado virou o rosto", conta.
Segundo ela, o namorado nunca desconfiou de nada. "Dei uma de santa e ele acreditou. Me achava a pura, aquela que obedece, sem saber da metade", afirma.
O comportamento começou no segundo ano de namoro, por causa das cobranças excessivas do ex-namorado. "Ele desconfiava tanto que resolvi fazer, para que ele falasse com razão", justifica.
Não foi o caso da estudante Rita de Cássia Klein Nakano, 22, que se define como "porra-louca", adora jogar truco, beber e falar palavrão (leia texto ao lado).
"Fiquei apaixonada por um cara e o único jeito de estar com ele era deixar de fazer tudo isso, pelo menos enquanto ele estava perto", conta.
Outra que se transforma só para garantir a conquista é a universitária Gladys de Moraes, 23. Ela só toma Gatorade com o namorado, um "esportista, romântico e ecológico". O detalhe é que ela odeia a bebida. "Gosto mesmo de cerveja, mas, com ele, não peço nem refrigerante", conta.
Em algumas manhãs, deixa de encontrá-lo sob o pretexto mais do que saudável de fazer cooper. "Só que eu não chego a sair da cama."
Isso porque voltou tarde para casa da noitada com as amigas. "Ele me deixa em casa e saio, de preferência com uma roupa bem curta e decotada."
Para Gladys, fazer tipo funciona com qualquer homem. "Eles sempre caem." Na maioria das vezes, alguns passos são básicos: nunca beber, deixar de rir alto, não falar palavrão e verificar o terreno para descobrir os gostos dele.
"Quando você começa a se envolver com alguém, percebe o tipo de mulher que ele gosta. Tem o esportista, o romântico -para quem você escreve cartas e é mais delicada- e assim por diante."
Já com o tipo "intelectual" é preciso ser bem-comportada, saber quais são os melhores restaurantes, as últimas novidades em teatro, literatura e cinema.
"Nunca, jamais, você pode falar 'vamos para uma danceteria superbadalada', isso acaba"'. Segundo ela, é fácil descobrir que gênero de homem ele é. "Não demora mais do que um mês."
Um namorado de Campinas (99 km a noroeste de SP) foi a principal vítima da advogada Gisele (nome fictício), 25.
Ele era "meio machão", segundo Gisele, e seu programa preferido era ficar em casa vendo filmes no videocassete.
"Quando vinha para São Paulo, queria ir ao zoológico, ao Playcenter, eu acompanhava. Ele detestava bares e casas noturnas. Eu adoro, mas nunca deixei que ele soubesse", diz.
Entre as exigências do namorado (que ficou com ela por dois anos) estavam o comprimento da roupa, o número de amigos do sexo masculino e a quantidade de maquiagem.
"Sempre concordei em tudo, mas fazia só para agradar. Várias vezes falei das roupas de outras mulheres, como se jamais fosse capaz de usar. Mas quando ia a festas com as amigas, me liberava. Cheguei até a beliscar a bunda de um cara."

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