São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Consulta bem-feita pode reduzir exames

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre 70% e 80% dos exames realizados em pacientes não-hospitalizados dão resultado negativo, estima a Sociedade Brasileira de Clínica Médica. A média norte-americana não é muito diferente, mas os médicos concordam que uma consulta bem-feita poderia derrubar o número de exames pela metade.
"Quanto menos o médico sabe sobre seu paciente, mais exames ele solicita", diz Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
"O alto índice de exames negativos é um grande desperdício e revela um despreparo do médico", diz Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo. Só o laboratório Lavoisier, um dos mais conceituados de São Paulo, realiza cerca de 100 mil exames por mês. A grande maioria por meio de convênios de saúde.
Segundo o diretor técnico do Fleury, Adagmar Andriolo, metade dos exames são solicitados diretamente pelo paciente, sem um pedido médico. "Esse é um fato que não ocorre em outros países", diz o médico.
É essa espécie de "auto-examinação" -que corresponde à auto-medicação tão comum no país- que responde pelo maior número de resultados normais.
Andriolo, no entanto, vê o aumento do número de exames como uma boa notícia. "A tendência é fazer cada vez mais diagnósticos precoces", afirma. A medicina oferece hoje mais de mil exames diferentes.
Alguns tumores, por exemplo, podem ser detectados em exames até seis meses ou um ano antes da manifestação. É cada vez maior o número de equipamentos e desco bertas que permitem melhor qualidade de vida aos pacientes.
Segundo Andriolo, dez anos atrás o paciente que chegava ao laboratório fazia em média 3,5 exames. Hoje faz seis.
"O fato de um exame dar normal não quer dizer que seja desnecessário", afirma Décio Diament, gerente médico do Lavoisier. "Qualquer que seja o resultado, será um indicador para o médico."
Em pacientes internados, a média de exames normais cai para 15%. No ambulatório dos hospitais universitários, a média de exames negativos é de 45%.
O diagnóstico certo depende muito do sistema. "Os hospitais universitários estão sem verbas e o sistema de saúde está sucateado", diz Euripides Ferreira, professor da Universidade Federal de São Paulo e hematologista do Hospital Albert Einstein.
É quase impossível a um médico fazer um diagnóstico correto em 5 ou 10 minutos de consulta, como ocorre nos serviços públicos. Os exames acabam sendo um complemento da consulta.
"Se uma consulta dura dez minutos, eu peço dez exames", diz o professor Antonio Carlos Lopes. "Se dura 45 minutos, eu não peço nenhum."

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