São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Clínico critica exame inútil

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O clínico geral Oswaldo Luiz Ramos, 67, provocou a antipatia de seus colegas quando chamou os especialistas de "gigolôs de máquinas" no Congresso Brasileiro de Clínica Médica há 15 dias.
Médico há 44 anos e chefe da clínica médica da Universidade Federal de São Paulo (Escola Paulista de Medicina), Ramos é do tipo que não fica satisfeito com uma consulta de menos de uma hora.
Se o caso for uma pneumonia, que pode ser diagnosticada em pouco mais de cinco minutos, ele vai aproveitar o resto da hora para saber como anda a pressão arterial, os batimentos cardíacos e até a atividade sexual do paciente.
Não é contra os especialistas. "A medicina ficou complicada, o clínico resolve 80% dos casos, mas precisamos de especialistas."
É contra os "exames inúteis". Segundo o clínico, o médico deve ter uma formação cultural que permita obter um diagnóstico apenas com as informações passadas pelo paciente. O exame serve apenas para confirmar a suspeita.
"A tecnologia deve ser usada. Mas o médico precisa pedir exame conforme a necessidade. Nunca deixar de pedir um exame essencial e nunca pedir exame inútil."
O "gigolô de máquinas", segundo Ramos, é o médico que especula através dos exames.
"Há médicos que, como não tiveram boa formação, escolhem uma área muito específica e vivem com o auxílio da máquina."
Ramos defende o prontuário único e a consulta sempre com o mesmo clínico. Para isso, toma o exemplo da Inglaterra, onde o paciente vai sempre ao mesmo clínico, perto de sua casa, e tem um prontuário único. Se necessário, o clínico indica um especialista, mas depois prossegue o tratamento.
"No Brasil, quanto mais sã a pessoa for, mais capacidade tem de consultar médicos. O SUS é muito liberal. As pessoas consultam quantas vezes quiserem."
Filho do clínico Jairo Ramos, criador do departamento que chefia hoje, Oswaldo Ramos acha que o clínico geral já teve mais prestígio e hoje está no "pico do vale".
"A gente finge que não percebe que os estudantes estão procurando cada vez menos a clínica médica. Houve época em que o prestígio de um clínico era igual ou maior do que o de um cirurgião."

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