São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HC aumenta tempo de residência na área

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir do próximo ano, os médicos-residentes do Hospital das Clínicas de São Paulo terão que fazer dois anos de residência em clínica geral. Só depois poderão optar por uma especialidade. Até agora, o máximo exigido era um ano de clínica geral. "Foi a saída encontrada para garantir uma boa formação geral aos especialistas", diz Milton de Arruda Martins, professor da Faculdade de Medicina da USP.
A maioria dos médicos, no entanto, nem chega a ter acesso à residência médica. No país todo, as 80 faculdades de medicina formam cerca de 8.500 médicos a cada ano. Desses, menos da metade consegue vaga nas residências.
As residências médicas permitem que os graduados atenda os pacientes sob a orientação de professores. Muitos dos médicos que não conseguem vaga nas residências viram especialistas. Outros vão direto para o mercado como clínicos.
"Sem a prática nos hospitais-escola, o médico não sai pre parado", diz Antonio Celso Nunes Nassif, 61, presidente da Associação Médica Brasileira. As deficiências começam já na graduação. "Muitas faculdades oferecem mais vagas do que comportam, outras se limitam a cursos de fins-de-semana. O Ministério da Educação não tem o devido controle sobre essas escolas."
O excesso de escolas vem provocando uma concentração de médicos nos grandes centros. Segundo Nassif, no Rio Grande do Sul e em São Paulo já há um médico para 400 habitantes. A Organização Mundial da Saúde recomenda um médico para mil habitantes.
Outro desvio é o excesso de especialistas, estimulado pelas faculdades. A formação de um clínico geral é demorada e exige atualizações constantes. "É mais fácil saber muito sobre pouco, do que saber muito sobre muito", compara Antonio Carlos Lopes, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Um levantamento da Fundap (Fundação para o Desenvolvimento Administrativo) mostra que as residências médicas continuam privilegiando as especialidades. De 1.785 vagas em residências oferecidas em 94 por 21 hospitais e institutos paulistas, 268 foram para clínica médica e 1.517 para outras especialidades.
Um estudo norte-americano concluiu que a clínica geral, a pediatria geral e a medicina de família deveriam concentrar 50% dos médicos. Menos de 30% tinha optado por essas áreas.
Nas universidades americanas, já há sinais de mudança: três anos atrás, 14,6% dos estudantes de medicina queriam ser clínicos gerais. Hoje já são 27,6%.

Texto Anterior: EUA combatem especialização
Próximo Texto: Idealista faz opção por clínica médica
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.