São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Crack inverte rota de difusão das drogas

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

A difusão do uso do crack pela classe média é um fenômeno das drogas "ao contrário"'. Normalmente, a disseminação das drogas acontece das classes mais abastadas para as mais pobres.
Segundo a médica Patrizia Donatella Streparava, neuropsiquiatra e coordenadora do Programa Phoenix, diferentemente de drogas como a maconha e a cocaína, o crack começou a ser usado pelos pobres e hoje está espalhado na classe média paulistana.
A história da jovem Cristiane Gaidies, 20, morta domingo passado ao tentar roubar um toca-fitas, é parecida com a de outros usuários da droga. Criada numa família de classe média, Cristiane era dependente de crack e roubava para manter o vício.
A mãe de Cristiane, a psicóloga Marli Gadies, disse que enviou a filha para clínicas, mas não obteve resultado. Segundo ela, Cristiane usava drogas há quatro anos e estava viciada em crack havia um ano e meio.
O crack é considerado o lixo da cocaína. Formada basicamente por pasta de cocaína e bicarbonato de sódio, recebe a adição de várias substâncias químicas.
A médica Streparava diz que o crack cria dependência mais rapidamente que a cocaína e tem efeito fugaz -que, para ser prolongado, precisa de um uso reiterado e muito nocivo à saúde.
O Programa Phoenix trabalha na prevenção do uso de drogas e na triagem e encaminhamento de dependentes para tratamento. A Casa de Saúde de Santana (zona norte de SP) atende os pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde).
Streparava afirma que a maioria dos usuários de crack em tratamento na Casa de Saúde pertencem à classe média. "É um erro achar que apenas os meninos da Praça da Sé usam crack", afirma Streparava.
Atualmente, a Casa de Saúde de Santana tem 52 homens e 4 mulheres em tratamento. Todas as mulheres são dependentes de crack. O Programa Phoenix também encaminha pacientes para clínicas particulares.
A internação de drogados deve ser bem avaliada, segundo médicos ouvidos pela Folha. Famílias com maior poder aquisitivo tendem a achar que o problema não lhes pertence mais ao internar um parente. Os médicos julgam fundamental o suporte da família.

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