São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Bancos revolucionam a contratação de terceiros

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma verdadeira revolução cultural está invadindo, aos poucos, os bancos brasileiros. Cada vez mais eles aderem à segunda onda do processo de terceirização.
Se antes os bancos entregavam a terceiros as prosaicas tarefas de limpeza, impressão de talonário e transporte de numerário, agora vão além: contratam empresas especializadas em serviços financeiros.
Nessa nova fase, a terceirização atinge a gestão de fundos de investimento, de cartões de crédito, de riscos de seguro. Sem falar em outras áreas de cunho operacional, como a compensação de cheques.
O Banco Nacional é um dos vanguardistas desse processo. Desde dezembro, oferece aos clientes fundos de investimento administrados por outros bancos.
Qualquer cliente do Nacional pode investir, a partir de R$ 2.500,00, em fundos administrados por "cobras" do Pactual, do Icatu, do Bozano, Simonsen, do Chase Manhattan, do SRL, do Primus e do Liberal.
"Queremos ser um supermercado de investimentos. Para oferecermos produtos diversificados, abrimos nossa rede a bancos de atacado, que têm grande experiência em gestão de fundos de riscos diferenciados", diz Márcio Barretto, gerente do Nacional.
O Investcenter do Nacional, que reúne 26 fundos de terceiros e seis do próprio banco, somava um patrimônio da ordem de R$ 215 milhões no último dia 10. Destes, R$ 158,5 milhões depositados nos fundos dos parceiros.
Os clientes escolhem entre três estilos de fundos: conservador, moderado e agressivo. Conforme o perfil, os bancos aplicam em títulos de renda fixa ou variável, usando ou não mecanismos de alavancagem nos chamados mercados de derivativos financeiros.
O Nacional não radicalizou a ponto de entregar toda sua gestão de fundos a terceiros -ainda administra em casa cerca de R$ 5,5 bilhões de empresas e pessoas.
Mas há quem veja nessa tendência um caráter de irreversibilidade. É o caso de Walter Brasil, diretor do Banco Real de Investimentos.
Para ele, os bancos múltiplos e comerciais irão, cada vez mais, entregar a gestão de fundos especializados (ações, derivativos etc.) para quem é do ramo.
"Estamos caminhando para o modelo americano. Os grandes bancos de varejo ficam somente com os fundos de renda fixa de curto prazo, os chamados 'money market funds'. Os outros são geridos pelos 'asset managers', ou seja, administradores de recursos."
O Real, único dos grandes bancos que não é múltiplo, pretende investir agressivamente em seu banco de investimentos nos próximos anos, afirma Brasil. Já o Unibanco, que é múltiplo, montou a Unibanco Asset Management, empresa de gestão de recursos a ser tocada por Francisco Pinto, ex-diretor do Banco Central. É como terceirizar dentro de casa.
Proliferam, no Brasil, empresas como a do Unibanco. Prestam serviços terceirizados de investimento companhias como a Opportunity, do economista Daniel Dantas (ex-Icatu); a Brasilpar Serviços Financeiros, de Roberto Teixeira da Costa; e a Linear Administração de Patrimônio, de Ibrahim Eris e Luís Paulo Rosenberg.
A Brasilpar tem fundos com a Porto Seguro. A Linear faz a gestão de 30 fundos, oito dos quais a serviço de bancos e corretoras. Investem nesses fundos clientes da Griffo, do Prósper, do Dibens, do Paraná, da Coinvalores e da Top Trade. No total, a Linear administra cerca de R$ 300 milhões em recursos de terceiros.
"O mercado financeiro vai se especializar cada vez mais. É um processo inevitável", comenta David Gotlib, diretor da Linear.

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