São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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"Kids" de ontem; O favorito de Lincoln; Precisão; Injustiça; Adendo; Modernidade assustadora; Omissão; Autonomia universitária; Revisores; Falta de assunto

Erramos: 31/10/95
A carta da leitora Artura Toscanina Filha, publicada à pág. 1-3 ( Opinião) de 29/10, faz menção à edição de 7/5 e não à edição de 22/10.
"Kids" de ontem
"Os inúmeros artigos sobre o filme 'Kids' publicados na Folha e em outros jornais trazem a análise do filme sob o ponto de vista de pessoas que não são adolescentes já faz tempo. Isso acaba levando a uma análise fria, distante, 'sociológica', técnica. Em geral são pessoas que acreditam que as drogas fazem mal, que as atitudes dos 'kids' são sintomas de falência social etc., etc., etc. Eu também já passei da idade de 'kid', tenho 21 anos, mas estou mais próximo da adolescência e digo o seguinte: fui assistir ao filme com mais seis amigos, todos mais ou menos dessa idade, e a identificação que sentimos em vários momentos foi algo que os jornalistas que escreveram sobre o filme não souberam -nem poderiam- captar. Muitos jovens, entre os quais alguns dessa minha turminha, já fomos adolescentes inconsequentes e beberrões como os de 'Kids', que consideravam o resto do mundo apenas o resto. Esse passado não impediu que nos tornássemos estudantes universitários, trabalhadores e pessoas com uma vida pessoal minimamente organizada. É comum sentir nos artigos sobre 'Kids' aquele fundinho moralista perguntando: 'O que será desses jovens urbanos contemporâneos quando crescerem? Vão ser perdidos na vida'. Tremenda besteira, vamos ser como vocês."
Lino Ito Bocchini (São Paulo, SP)

O favorito de Lincoln
"A reportagem de Carlos Eduardo Lins da Silva 'Livro mostra horrores que seduziram os Estados Unidos' (Folha, 10/6, pág. 1-24) fala sobre Mathew Brady, nome lendário no mundo da fotografia. A reportagem, porém, vê Brady de soslaio. Na verdade Brady foi o fotógrafo favorito de Abraham Lincoln. O primeiro encontro entre ambos se deu em um estúdio do Brooklin, em Nova York. Dele surgiu uma foto hoje rara: Lincoln sem barba. Lincoln costumava dizer que aquela foto e a Cooper Union o haviam eleito presidente dos Estados Unidos. Nas proximidades do Ano da Graça de 1864 uma menina de Westfield, Nova York, escreveu ao homem de Illinois sugerindo que umas suíças lhe cairiam muito bem. Ele assim o fez. Então, no dia 9 de fevereiro de 1864 surgia, em uma foto de Brady, um Lincoln barbado. É aquele Lincoln da cédula de US$ 5."
Adalberto P. Silva (Fortaleza, CE)

Precisão
"Não sei se é ranzinzice da minha parte, mas há três coisas que não me descem bem pela garganta quando leio -e isso é frequente- nos jornais brasileiros 'fulano mudou de sexo' quando se refere a casos, por exemplo, como o da Roberta Close. No meu entender alguém pode fazer uma operação, retirar o pênis, fazer uma imitação de vagina, mas mudar de sexo, não! Outro é a mania que os jornais têm de em manchetes e textos se referirem a ações de gentes da cidade em ataques a índios como 'ataque branco'. Sem dúvida aquele ataque, aquela ação, no Brasil, partiu de morenos, mulatos e negros, todos enfeixados na categoria 'brancos'. Em terceiro, os títulos de príncipe a pessoas descendentes da antiga família imperial brasileira. Príncipe de quê?"
Amaury Fonseca de Almeida (Rio de Janeiro, RJ)

Injustiça
"Cruel, injusta e vergonhosa a forma de tratamento que vem sendo dada aos sem-terra. Insuficiente a exclusão dos direitos mínimos assegurados em pactos internacionais e Constituição, sem-terra agora é guerrilheiro, formador de bando e quadrilha, conspirador. Deve ser torturado, massacrado em operações questionáveis e criminosamente desiguais: de um lado, o poder, em parceria com o latifúndio, garantido pelas armas militares; do outro lado milhares de famílias sem terra, sem táticas e sem defesa, equipadas 'até os dentes' de fome, de cansaço, de tensão e de ameaças de ficarem de fora da reforma agrária(?) caso ocupem terra 'alheia'. Essa orquestração pode resultar em perigoso ingrediente instigador da opinião pública. Aí, o governo será responsável e também autor, por omissão, incompetência, inviabilização da reforma agrária e cumplicidade com segmentos que têm por bandeira a perpetuidade da dominação."
Marília Lomanto Veloso (São Paulo, SP)

Adendo
"Sobre o artigo 'Em nome de Deus' (Otavio Frias Filho, 26/10), faltou dizer, no último parágrafo: '...e nossas generalizações são pura arrogância'."
Irede Cardoso (São Paulo, SP)

Modernidade assustadora
"Na edição de 16/10 li, com assombro, no Folhateen, a resposta da psicóloga Rosely Sayão a uma criança que lhe escreveu uma cartinha. Diz a criança que fez sexo anal para não engravidar, já que nem ela nem o namorado tinham camisinha. 'Pelo menos você se preocupou em não engravidar aos 13 anos, menos mal' (sic). Pergunto: engravidar não pode; pegar Aids pode? Quando uma criança de 13 anos escreve tranquilamente a respeito vejo que estou fora do contexto da modernidade. Será que estou errado? A psicóloga poderá me responder."
José Branco (São Paulo, SP)

Omissão
"Em um momento em que o Congresso decide sobre assuntos que podem mudar as nossas vidas, este jornal se omite na informação sobre como votaram deputados e senadores. Por quê?"
Luiz Carlos Gomes de Lima (São Paulo, SP)

Autonomia universitária
"Em carta publicada em 30/8 o sr. Luiz Gornstein ridiculariza a proposta de uma lei de autonomia universitária baseado em slogans políticos. Sou uma pessoa séria que lutou e luta contra as ingerências políticas na vida científica. Vítima da ditadura militar, dos governos do PMDB e de seus aliados, que perseguiram-me e a meus colegas e alunos, não posso assistir calado ao desmanche das universidades públicas em nome de um demagógico e ineficiente truque financeiro no Orçamento. Se as verbas universitárias pudessem resolver os problemas de caixa do Estado, e se tivéssemos garantias de que isto se efetivasse, mesmo assim seria crime fechar laboratórios e salas de aula. Estamos longe da plena confiabilidade em qualquer Executivo, nacional ou estadual. Quando dinheiros do FSE são aplicados em goiabada e presentinhos, falta aos dirigentes autoridade ética para extrair dinheiro da investigação científica. E os adeptos desses líderes, como parece o caso do missivista, precisam ter respeito pelos que se dedicam à pesquisa, com salário irrisório."
Roberto Romano (São Paulo, SP)

Revisores
"'Os covardes apenas brincam de escrever, ou são revisores, redatores, tradutores'. Um jornalista que tenha a 'coragem', ou melhor, o antiprofissionalismo de afirmar tal hipótese não merece o mínimo crédito. No artigo publicado na Revista da Folha (16/7) tenho absoluta certeza de que Marilene Felinto foi arbitrária e absolutamente ignorante. Pois só um ignorante quanto ao processo editorial poderia afirmar que revisores e tradutores são covardes. Por sorte também não há nenhum 'covarde' trabalhando em parceria com a jornalista que pudesse evitar erros gramaticais como 'dar a cara à tapa'!"
Maysa Monção Gabrielli (São Paulo, SP)

Falta de assunto
"A prova mais eloquente da falta de assunto, por parte da Folha, temos na edição de domingo do jornal: Zé Simão tem matéria no caderno 1, tradicionalmente dedicado à Política/Brasil. Enquanto isso, o ombudsman gasta toda sua coluna em uma discussão com a editoria de Esporte acerca de reportagens sobre o primeiro aniversário da morte do Senna. Saudades da Júnia! Perguntinha ingênua: por que o tal de ouvidor não dedica um único parágrafo à crítica da Revista da Folha? A edição -com nova cara- foi uma apelação só. Zé Simão é aceitável. Mas Roberto Campos no domingo é dose! Overdose é possuir como articulistas principais as três luminares da lumpenburguesia Barbara Gancia, Pascowitch e Palomino, ao lado do quarteto macabro: Dimenstein, Jó-sias, NassifMoedaViva e Cony."
Artura Toscanina Filha (São Paulo, SP)

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