São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Um passeio eliminado

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

No dia 19 de outubro estive em Barcarena (Pará), onde foi inaugurada a Alunorte -empresa de capital privado que, a partir da bauxita, permitirá a fabricação do alumínio. Com isso completa-se o ciclo daquela indústria na região amazônica.
Foi um grande feito que, infelizmente, chegou com 15 anos de atraso. Tudo por causa da triste e perniciosa teimosia dos governos dos anos 70.
O Brasil detém a terceira maior reserva de bauxita do mundo. E, durante décadas, o país precisou exportar minério para importar óxido de alumínio refinado -um profundo e ingrato vexame para a engenharia nacional.
Aquele corredor de importação constitui-se, na verdade, em um inaceitável corredor da vergonha para a metalurgia do Brasil.
Os estrangeiros levavam a nossa matéria-prima a preço de banana e nós importávamos o metal por um preço razoavelmente alto.
Na referida visita comoveu-me saber que 100% do óxido de alumínio utilizado pela maior fábrica de alumínio nacional do Brasil -a Albrás- já está sendo fornecido pela Alunorte.
Acabou, com isso, o "passeio da bauxita", fruto da incompetência e arrogância daqueles que dirigiram o destino da nação em épocas anteriores.
O retardamento da Alunorte onerou muito o custo da empresa. Gastou-se US$ 850 milhões naquele investimento, o que foi muito além do razoável.
O desperdício decorreu, igualmente, de políticas regionais escritas com "p" minúsculo, cuja finalidade principal foi a de angariar votos por parte daqueles que, apesar da sua evidente incompetência, conseguiram, com recursos do Tesouro Nacional, contínuas reeleições.
Na inauguração do dia 19 o presidente Fernando Henrique Cardoso, em um discurso de improviso, emocionou os responsáveis pela execução daquela importante obra. Foi um belo trabalho.
O presidente deixou claro que o Brasil precisa pensar em alargar de maneira competente as suas fronteiras. Daqui para a frente os empresários terão de investir nas regiões que, apesar de ricas em matéria-prima, têm dificuldades para se desenvolverem.
Mas a filosofia terá de ser diferente. Chegou a hora de darmos um basta ao imediatismo e à especulação dos que ainda sonham em continuar, ad infinitum, a mera exportação das riquezas do subsolo.
Esse tempo já passou. Daqui em diante é fundamental investir para processar, empregar e pagar salários dentro do país.
Erros como o da demora na execução daquele empreendimento terão de ser evitados.
Da mesma maneira que ficamos felizes com a inauguração da extraordinária obra ficou claro que, por muitos anos, teremos de enfrentar a dificílima tarefa de pagar um grande débito financeiro oriundo da total falta de planejamento, ignorância e teimosia daqueles que dirigiram a nação no passado.

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