São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Mãe quer polícia fora de sequestro

FERNANDA DA ESCÓSSIA; FERNANDO PAULINO NETO; RITA FERNANDES
DA SUCURSAL DO RIO

Na única declaração feita até agora pela família de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho, a mãe do rapaz, Cristina Gouvêa Vieira, pediu ontem que a polícia fique fora do caso.
“Eu quero a polícia fora, quero uma negociaçào rápida, quero meu filho de volta”, disse.
Chorando, fez uma declaração ao filho sequestrado na semana passada: “Duda, tenha fé. Nós te amamos”. Ela falou aos jornalistas às 15h da varanda da casa da família no Humaitá (zona sul).
O chefe da Polícia Civil, delegado Hélio Luz, disse que a polícia continuará investigando o caso, porque o sequestro foi um crime de “ação pública”.
“Respeito a opinião deles, é um direito da família, mas nós continuamos investigando. Temos informações de vários cativeiros e continuamos checando”, disse.
Anteontem, policiais civis invadiram a favela de Vigário Geral (zona norte) para checar a informação de que Vieira Filho estava em cativeiro na favela.
Por volta das 17h30 do mesmo dia, o governador Marcello Alencar divulgou à família a libertação do rapaz e desmentiu o fato pouco mais de duas horas depois.
O chefe da Polícia Civil disse que vai apurar dois pontos na confusão sobre a falsa libertação de Vieira Filho, sequestrado quarta-feira pela manhã: quem divulgou a informação e por que a Rede Globo acompanhou a operação da polícia na favela de Vigário Geral.
Luz disse suspeitar de que policiais civis, do grupo de Operações Especiais, podem ter deixado vazar a informação. Segundo Luz, policiais desse grupo fazem a segurança do presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho.
A TV Globo divulgou a libertação durante a transmissão do jogo Fluminense e Palmeiras, sábado à tarde. Luz disse ter ficado sabendo da informação pela televisão e que em nenhum momento confirmou a libertação à emissora.
“Depois que vi na televisão, tentei falar com os policiais da favela. Não consegui me comunicar com duas das três equipes. Quando o general Cerqueira falou comigo, disse que havia a possibilidade de que a informação da Globo fosse verdadeira, porque eles, não sei como, estavam lá”, afirmou Luz.
O chefe de polícia afirmou que afastará policiais do grupo de Operações Especiais se descobrir que eles beneficiariam a TV Globo com informações privilegiadas.
Roberto Marinho foi procurado por telefone pela Folha às 18h10, 18h20, 18h30 e 18h40, mas ninguém atendeu o telefone. O diretor de jornalismo da emissora, Evandro Carlos de Andrade, foi procurado por telefone às 17h30, 17h45, 18h e 18h25. As ligações também não foram atendidas.
A família Gouvêa Vieira cogitava desde o primeiro dia fazer uma declaração como a de ontem, mas as informações estavam centralizadas na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. O rapaz sequestrado é filho do presidente da Firjan.
A confusão sobre a libertação do rapaz acabou precipitando a declaração. Até falar com Alencar, a família não tinha informações sobre a investigação da polícia.

Colaborou RITA FERNANDES, free-lance para a Folha

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