São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Rubras faces punem com cartão amarelo

É como impedir o sol de brilhar
MARCELO FROMER e NANDO REIS

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foram duas vezes, no mesmo dia, pelo mesmo motivo.
Foram dois jogadores penalizados por um único critério: a falta de noção do uso da autoridade. São os tais homens de preto e seus insensatos cartões amarelos, que usam microscópios para ler as regras, mas precisariam de binóculo para enxergar o que nem deveria ser dito.
Se é facultado a eles o direito da interpretação e da autoridade para decidir cada lance, estamos diante de ignorantes!
Há tantas e oportunas ocasiões para que usem o tal cartão, mas, invariavelmente, ostentam a mediocridade da autoridade de quem não sabe a que ela se presta.
Vamos aos lances:
1) Jogavam Inter e Palmeiras uma bela partida no domingo retrasado. O Inter já ganhava de 1 a 0 quando o habilidoso e liso Caíco entrou tabelando com Válber. Com a sede e a vontade de um goleador, empurrou o próprio companheiro, em um ímpeto incontrolável, para depois marcar um golaço!
2) No mesmo domingo, o Don Diego de São Januário -Valdir, o Zorro- muniu-se da afiada espada de sua habilidade para salvar o seu Vasco. Serviu de bandeja seus companheiros em três gols, que se somaram aos outros três que ele mesmo fez na goleada que esquartejou o infeliz Paysandu. Golaços!
Esses dois mensageiros da alegria foram reprimidos secamente pelos árbitros com o cartão amarelo, por terem ido comemorar suas pequenas obras, cada qual a sua maneira. Podem argumentar que a Fifa estabelece essa penalidade para o "delito" cometido. Bobagem!
Estamos falando da feitura de um belo gol, uma jogada brilhante que teve o desfecho lógico que o futebol deve alcançar: o encontro da pelota com as redes.
Para os que acham que um gol se resume ao ato simples de a bola ultrapassar a risca do cal que se alinha entre as traves, servem os gols dos telejornais.
Mas para os apreciadores das sutilezas da arte, esses sabem que um gol nasce antes de a bola estufar as redes e não morre junto delas.
O gol só está completo com a sapiência da jogada que o originou e com a particularidade da comemoração que se segue.
O gol é um banho, uma onda que bate e acorda o mais sonolento dos homens, que estampa um sorriso na face mais triste, e para comemorá-lo, exaltá-lo, reconhecê-lo, nominá-lo, palpá-lo, é preciso correr, gritar, ir de encontro aos outros, mesmo que cego, sozinho, divino, inconsciente.
Reprimir a comemoração com um cartão amarelo é, em si, uma medida estúpida, anacrônica, antiestética, funcional e burra. E com o vermelho, então? Esse só serve para refletir em seus rostos a vergonha de proibir o que não pode ser proibido: a alegria do gol!
Talvez eles tenham se esquecido de que, para o futebol, a bola é o sol!!!

Cartas podem ser enviadas para a editoria de Esporte, al. Barão de Limeira, 425, 4º andar, CEP 01290-900

MARCELO FROMER e NANDO REIS são músicos e integrantes da banda Titãs

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