São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Romance de estreante entusiasma críticos

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Livro: A Casa da Palma
Autor: Carlos Nascimento Silva
Quanto: R$ 35

Mesmo antes chegar às livrarias, o romance de estréia de 600 páginas escrito por um desconhecido ex-professor universitário recolheu elogios de figuras importantes do meio literário.
A expectativa é se "A Casa da Palma", do mineiro Carlos Nascimento Silva, 58, terá respaldo do público.
Por enquanto, a saga de uma família portuguesa pelos confins do Ceará, durante dois séculos, já conquistou a admiração do escritor Affonso Romano de Sant'Anna, do crítico literário Luiz Costa Lima, da novelista Leonor Bassères, do antropólogo Muniz Sodré, entre outros.
"Esse é um dos livros mais surpreendentes de escritores brasileiros contemporâneos. O autor tem um domínio narrativo raro, sobretudo porque lida com uma matéria complexa, que é o romance histórico, que se desenvolve em vários planos e épocas. É uma verdadeira história do Brasil afetiva e, 'linguisticamente', tem soluções bastante ousadas", diz Sant'Anna.
Para Sodré, o livro possui uma narrativa poderosa com vida própria que está ao abrigo dos olhos do público.
"'A Casa da Palma' flui como um grande rio embrenhado na mata", avalia ele, surpreso com a qualidade da obra em meio à produção literária nacional atual.
"O movimento editorial está conhecendo a fase do lixo. É impressionante a quantidade de lixo que vem fazendo sucesso. É nesse contexto que aparece um livro tão extraordinário", diz.

Violência e incesto
A história começa em 1783 e narra a saga de uma família de imigrantes portugueses na serra de Ibiapaba, sertão cearense, nos séculos 18 e 19, ao mesmo tempo em que traça um painel do Brasil colonial.
Para escrever o livro, Nascimento fez uma pesquisa histórica sobre o período em Portugal e nas "colônias" brasileira e angolana.
Não faltam temperos eróticos. A história é apimentada por casos de incesto e homossexualismo, além de certa violência.
Mas a principal característica do romance é a invenção de uma linguagem própria.
Nada muito difícil para Nascimento Silva, um ex-professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da PUC-Rio.
Manipulando a língua, ele criou uma prosódia para portugueses no interior do Ceará, para índios aculturados e para escravos, nas diferentes relações sociais entre esses diversos grupos.
É a preocupação do autor com a verossimilhança das formas de tratamento existentes entre uma senhora branca e um mameluco que cuidava dos bois, por exemplo.
"Ele 'ficcionaliza' um português passadista nos momentos certos", atesta Sodré.

Faroeste brasileiro
Para quem se assusta com a lombada do livro, uma opinião que surge como alívio, a da novelista Leonor Bassères, 68, especialista em entreter o público.
"O livro é deslumbrante. É uma das maiores obras escritas em português em todos os tempos. Não dá para parar de ler", afirma.
Para Leonor, o livro é uma espécie "faroeste brasileiro".
Para Sodré, há um momento nostálgico que favorece a onda de biografias e romances históricos.
Embora ele diferencie "A Casa da Palma" dos demais pela qualidade e ousadia em inventar uma linguagem.
"O presente do Brasil é tão sem esperança que a memorialística tem feito sucesso. O Brasil deixou de ser o país do futuro para ser o sertão do passado", diz.

Texto Anterior: CLIPE
Próximo Texto: História tem violência, incesto e homossexualismo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.