São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Agências reconhecem acordo para as vendas

JOSIAS DE SOUZA; DANIELA PINHEIRO; ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Folha ouviu na última sexta-feira representantes de 21 das 32 empresas que integram o Clube de Negócios de Turismo Brasília. Inicialmente, as pessoas negaram a manipulação de licitações públicas.
Depois, informadas de que a reportagem da Folha dispunha de documentos, algumas terminaram reconhecendo a realização de sorteios para definição prévia dos vencedores das licitações.
Ouvido pela manhã, o presidente do clube, Luiz Gustavo de Andrades, negou a prática dos sorteios prévios. "De jeito nenhum. Não temos condições de fazer o sorteio de quem vai ganhar. O que fazemos é só uma habilitação das empresas".
À tarde, em seu escritório, Gustavo de Andrades, modificou o depoimento: "Nós selecionamos as empresas aptas e sorteamos. Podíamos entrar todo mundo com zero de desconto e o sorteio seria feito do mesmo jeito, só que no órgão público. Preferimos sortear no clube".
No instante em que recebeu a reportagem da Folha , o presidente do CNT estava acompanhado de outros dois sócios da entidade: Carlos Alberto de Sá, dono da Voetur, maior agência de Brasília, e José Antônio Arocha, da Terramar, firma de pequeno porte no setor.
Os três insistiram num ponto: o que levou à formação do Clube de Negócios de Turismo foi o risco de uma quebradeira no setor. A legislação que regula as licitações, segundo seus argumentos, é falha. "A lei é burra", disse Alberto de Sá.
Os empresários acham que o governo deveria exigir menores preços não das agências de viagem, mas das companhias aéreas (Varig, Transbrasil, Vasp e TAM). Ao conceder descontos ao governo, as agências abrem mão de parte da comissão que recebem das companhias aéreas.
"Recebemos comissão de 10%. Com os descontos, cai para 8,8831614%. Algumas agências estavam dando descontos superiores a 9%. Se isso continuasse, ia acabar com o setor", afirmou Antônio Arocha.
Alberto de Sá disse que o Ministério da Administração já estuda alterações na lei. Afirmou ter sido destacado pela Abav (Associação Brasileira de Agentes de Viagem) para representar o setor nas negociações.
Segundo o seu raciocínio, o critério do menor preço não pode prevalecer na contratação das agências de viagem. "Queremos ser avaliados pela qualidade dos serviços que prestamos".
O dono da Voetur mencionou o exemplo das agências de publicidade, que obtiveram do governo uma medida provisória introduzindo novos critérios de julgamento para as licitações do setor. Além do preço, pesam critérios subjetivos como a criatividades das peças publicitárias.
Entre os empresários ouvidos pela Folha, a maioria disse que, sem o clube, várias agências iriam à falência. Nove agentes de viagem continuaram, porém, negando até mesmo a existência da organização.
Num primeiro contato com a reportagem da Folha, Norma Santinoni Vera, dona da agência Firenze e titular da conta bancária que recebe depósitos das empresas do clube, disse: "Não sei do que você está falando".
Mais tarde, mudou de posição. Reconheceu a titularidade da conta: "As outras empresas depositaram confiança no nosso nome". E repetiu as críticas à lei que regula as licitações.
Lamarque Freire Rolim, da empresa Zeus, disse achar errado pedir desconto sobre uma "mísera" comissão repassada pelas companhias aéreas aos agentes de viagem. "A solução foi combinar o percentual no clube", afirmou.
O proprietário da Exitours, David Pessoa, disse que o CNT concordou em dar descontos de até 1% da comissão para "não quebrar o segmento do turismo". Segundo ele, "para evitar a coisa predatória, sempre há o rodízio".
(Josias de Souza, Daniela Pinheiro e Abnor Gondim)

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