São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
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Exposição traz Brasil entre Hitler e Aliados

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

No dia 1º de maio de 1937, a "comunidade nacional alemã" reuniu-se em torno do lema "Um povo, um líder, uma vontade" - "Ein volk, ein führer, ein wille".
Segundo cartaz redigido em alemão e dominado por símbolos nazistas, a comemoração não foi em Berlim, mas no Rio de Janeiro.
O cartaz é um dos exemplos da guerra ocorrida entre as décadas de 30 e 40 dentro das fronteiras brasileiras.
Uma guerra que, pelo menos em seu início, foi movida mais a papel do que a tiros.
Esta guerra seria interrompida apenas em 1945, com a derrota, lá fora, do nazi-fascismo e a derrubada, aqui dentro, da ditadura de Getúlio Vargas.
Alguns dos principais despojos dessa guerra estarão, a partir do próximo dia 8, no Centro Cultural Light, no centro do Rio, local da exposição "Os dez anos que abalaram o mundo" -referência ao período entre 1935 e 1945.
A exposição é organizada pelo Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, com base no acervo recolhido das polícias políticas dos antigos Distrito Federal e Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro.
Coordenador de Pesquisa e Informação do Arquivo, o historiador Henrique Samet afirma que o período escolhido marca uma série de movimentos e transformações no Brasil e no mundo.
Entre os fatos ocorridos, o levante (a "Intentona") comunista de 35, a guerra civil espanhola, a 2ª Guerra Mundial, o início da ditadura do Estado Novo em 37 e a insurreição integralista de 38.
Material de propaganda, de contrapropaganda, documentos secretos, transcrições de conversas telefônicas estão entre as peças que serão expostas.
O material revela um país em que atuam, entre outros, alemães, ingleses, comunistas, fascistas e integralistas: a difusão das idéias e de espiões é facilitada pela existência de imigrantes vindos de países como Alemanha e Itália.
Espaço
Todos estavam em busca da conquista de um espaço até então mais ou menos vago. Apesar dos acenos pró-nazistas, o governo de Getúlio Vargas mantinha-se neutro na disputa que dividia o mundo.
Uma neutralidade que, de acordo com Luiz Henrique Alves Sombra, diretor de pesquisa do Arquivo, era bem-vista pelos alemães e que não impedia Vargas de, aqui e ali, demonstrar sua simpatia pelo nazi-fascismo.
Em junho de 1940, a bordo do encouraçado "Minas Gerais", o presidente elogiou, ainda que sem citar Alemanha ou Itália, "as nações fortes que se impõem pela organização baseada no sentimento da Pátria".
A exposição vai mostrar um livrinho de 32 páginas, impresso na década de 30 pelo governo brasileiro, que ressaltava as realizações de Vargas.
O livro era impresso em alemão e mostrava "o presidente Getúlio Vargas e os novos caminhos brasileiros".

Local: Centro Cultural Light (rua Marechal Floriano, 168, térreo, centro, Rio de Janeiro, RJ)
Quando: de 8 de novembro a 8 de dezembro
Horário: de segunda a sexta, das 10h às 19h

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