São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995 |
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Documentos registram batalha ideológica
FERNANDO MOLICA
Entre elas está o documento em que revolucionários comunistas de 1935 apresentam sua rendição. Datado de 27 de novembro e assinado pelo capitão Agildo Barata Ribeiro, entre outros, o documento diz que a rendição foi decidida para "garantir a vida dos nossos comandados e dos nossos prisioneiros". Redigido no quartel da praia Vermelha, no Rio -um dos principais focos de sublevação-, o documento afirma que seus signatários têm "a satisfação do dever cumprido, de acordo com os nossos sonhos na luta por um Brasil melhor". Herança também da fracassada tentativa revolucionária é o documento que comprova o bom relacionamento entre os governos brasileiro e alemão. A polícia brasileira recebeu da Alemanha cópia de um trecho da ficha da alemã Elise Saborowski, a Sabo, mulher de Arthur Ewert (o "Harry Berger"), um dos chefes do levante comunista, organizado a partir da então União Soviética. A ficha registra que, no dia 24 de outubro de 1936, Sabo foi deportada do Brasil para a Alemanha. Outro documento vindo da Alemanha mostra a troca de correspondência e de material entre nazistas e integralistas. Carta enviada no dia 11 de fevereiro de 1937 por uma organização nazista registra a satisfação pelo interesse da AIB (Ação Integralista Brasileira) e simpatizantes pelo nazismo. O documento é uma carta enviada por uma organização nazista a Raimundo Martins Filho, da AIB. Nela, fala-se na distribuição, no Brasil, de folhetos nazistas enviados para os integralistas. "Baseando-se na mesma tendência anticomunista, como a AIB, os nossos folhetos devem servir bem à nossa causa comum", diz a carta. Espécie de versão brasileira do nazi-fascismo, o integralismo foi pródigo na elaboração de documentos, uniformes e símbolos -boa parte dos quais foi parar nos arquivos da polícia política. Entre o material integralista há até maços de cigarros da marca "Sigma" -letra do alfabeto grego adotada como símbolo pelo grupo. Em 1939, uma foto de um coral de crianças da cidade de Harmonia (RS) revelava que os nazistas mantinham-se atuantes no Brasil, apesar das restrições geradas a partir da instituição do Estado Novo, dois anos antes. O cenário da apresentação do coro está recheado de símbolos nazistas. Os comunistas eram o alvo preferencial da polícia. Entre o material apreendido com os simpatizantes do líder Luiz Carlos Prestes está o cartaz de uma bandeira brasileira em que o círculo central ganhou cor vermelha no lugar da azul. O lema "Ordem e Progresso" foi substituído por "Pelo Brasil comunista, pela revolução internacional". Texto Anterior: Entenda termos do período Próximo Texto: Polícia política colhia propaganda Índice |
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