São Paulo, domingo, 5 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abrir uma igreja custa apenas R$ 30

XICO SÁ; CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Com uma taxa de apenas R$ 30 (em média) e mais um sócio, qualquer pessoa pode abrir em três dias uma microigreja evangélica e fazer as suas pregações "em nome do Senhor".
A igreja pode comercializar, sem pagar tributos, mercadorias de caráter religioso -bíblias, camisetas, brindes, fitas de vídeo etc. Está livre também de imposto sobre o que arrecada com o dízimo, a contribuição dos fiéis.
Além do benefício da isenção, as microigrejas, na condição de sociedades civis sem fins lucrativos, podem se candidatar a receber verbas públicas, como as destinadas a programas assistenciais.
Rumo ao sucesso
Esse caminho, por onde começou há 18 anos o bispo Edir Macedo com a sua Igreja Universal, é trilhado por milhares de novos pastores em ritmo frenético.
Somente em São Paulo, segundo estimativa de associações de evangélicos, devem existir 180 tipos de pequenas igrejas. A grande maioria possui um só templo, é de linha pentencostal e está situada em bairros da periferia.
No Rio, um estudo feito pelo sociólogo Jorge Luiz Domingues revela que, no início dos anos 80, surgiam 3,5 novas igrejas a cada semana. No fim dessa década e início dos anos 90, esse ritmo subiu para 5,4 igrejas por semana.
As dissidências, ou cismas, são diárias no mundo dos pastores e bispos, fenômeno que produz a multiplicação de templos.
Como a Igreja Evangélica de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), que "rachou" e fez nascer recentemente a Igreja Evangélica de Pinheiros de Tatuí -cidade localizada a 135 km a oeste da Capital.
Os templos surgem das mais variadas formas, e alguns têm duração efêmera. É o caso, por exemplo, de "O Homem que viu Jesus Cristo no Cinema", igreja que funcionou na região do ABC paulista até dois anos atrás.
A igreja foi criada por um empolgado espectador de um filme sobre a vida de Cristo. Entidades evangélicas crêem que "O Homem..." não exista mais.
Normalmente vinculadas a promessas de cura de doenças e soluções de crises financeiras e sentimentais, centenas de microigrejas surgem com nomes curiosos.
No Rio, existe o "Pronto Socorro de Jesus" e também "A Última Embarcação para Cristo". São Paulo tem "Espada de Dois Gumes", "Prepara-te" e "Deus Opera Maravilhas", entre outras.
Assessoria
Na cidade de São Paulo é possível encontrar escritórios especializados na orientação, montagem e legalização de pequenas igrejas evangélicas.
A ABE (Associação Brasileira dos Evangélicos), no centro da cidade, presta esse tipo de assessoria para candidatos a novos pastores e bispos.
O advogado Glauco Guerra também ajuda clientes interessados em legalizar o funcionamento de uma igreja. Ele cuida da parte burocrática, que termina com o registro do templo como sociedade.
Responsável pelo registro de várias igrejas, Guerra faz orientação jurídica e realiza todos os procedimentos exigidos por lei, entre os quais estão a confecção do estatuto e o registro da sociedade civil.
"Qualquer cidadão pode, em apenas três dias, ter a sua igreja instalada dentro da lei", disse.
O advogado alerta para o risco que correm aqueles que abrem um templo sem registro legal: "Montar uma igreja sem o registro pode levar a um processo por charlatanismo, além de não permitir o uso das vantagens fiscais".

Texto Anterior: Sequestrado no Rio dono do Café Canaã
Próximo Texto: Chique, templo reúne "evangélico de grife"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.