São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Governistas admitem desatenção a emenda

GUILHERME EVELIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A base do governo na Câmara admite que foi pega de surpresa pelas mudanças feitas pelo relator da emenda da Previdência na proposta do governo. Os governistas admitem que ninguém estava prestando muita atenção à emenda.
"Foi uma surpresa", admitiu o vice-líder do governo na Câmara, deputado Benito Gama (PFL-BA), comentando as alterações.
O deputado Euler Ribeiro (PMDB-AM), relator do projeto, vai manter em seu parecer, por exemplo, regras diferentes de aposentadoria para homens e mulheres.
A decisão contraria a proposta original, que prevê o fim da distinção feita pelo texto constitucional. Atualmente, as mulheres podem se aposentar com 30 anos de serviço, 5 a menos do que os homens.
O parecer do relator vai manter o direito de as mulheres se aposentarem com cinco anos a menos de contribuição à Previdência do que os homens, para os quais vão continuar a ser exigidos 35 anos.
Segundo o deputado, a manutenção da distinção se justificaria pela natureza diferente dos trabalhos normalmente desempenhados por homens e mulheres. "Não posso dar tratamento igual para coisas desiguais", disse.
O parecer vai abrir, no entanto, a possibilidade de uma lei complementar à Constituição acabar com essa distinção no futuro, caso aumente a diferença de expectativa de vida entre homens e mulheres. Hoje, as mulheres brasileiras vivem, em média, dois a três anos a mais do que os homens.
Euler Ribeiro e o deputado Jair Soares (PFL-RS), presidente da comissão especial da Câmara criada para analisar a reforma previdenciária, vão se reunir hoje com o ministro Bresser Pereira (Administração) para discutir o parecer, que vai ser apresentado entre os próximos dias 6 e 10.
O relator já anunciou que vai propor que as mudanças na Previdência só sejam válidas para as pessoas que entrarem no mercado de trabalho a partir da promulgação da emenda constitucional.
O parecer vai propor também uma espécie de prazo de carência de dois anos para que as novas regras sejam aplicadas.
Isso anula o principal objetivo do governo na reforma, que é aplicar as novas regras imediatamente para diminuir os gastos com o pagamento dos inativos.
Os servidores públicos têm direito de se aposentar recebendo integralmente o último salário da ativa. Pela proposta do governo, o valor da aposentaria cairia para 70% a 75% do último salário recebido pelo servidor público.
Euler Ribeiro disse ontem à Folha que vai propor que a Previdência continue arcando com a aposentadoria dos funcionários público até o teto de dez salários mínimos. A partir desse teto, a complementação das aposentadorias seria feita por um fundo com recursos do governo e servidores.
Apesar de seu parecer contrariar os interesses do governo, o deputado Euler Ribeiro disse que não está interessado em buscar um confronto. "Vou negociar com os ministros e as lideranças dos partidos no Congresso", afirmou.

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