São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Bauru vai desapropriar túmulos

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BAURU

A Prefeitura de Bauru (345 km a noroeste de São Paulo) pretende desapropriar os túmulos que foram "esquecidos" pelas famílias dos mortos.
O diretor de Necrópoles da Emdurb (Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural), José Martins Tavares da Silva, 50, disse que os túmulos "esquecidos" estão sem pintura há anos, com rachaduras e infiltrações.
A medida vai atingir principalmente os túmulos mais antigos, alguns deles que datam do início do século, como os localizados no Cemitério da Saudade, inaugurado em 1908.
A Emdurb, responsável pela administração dos cinco cemitérios de Bauru, afixou em 60 túmulos um impresso com o aviso de que os túmulos estão irregulares.
As famílias devem procurar a empresa até o final deste mês para regularizar a situação, pintar e fazer a manutenção dos túmulos.
Segundo a Emdurb, a desapropriação prevê a retomada da área pela prefeitura, com a demolição da construção e a retirada dos ossos.
Silva disse que dez desses 60 túmulos são de mortos cujas famílias não foram mais encontradas.
"Estamos fazendo todo o esforço possível para que evitar a desapropriação. Vamos tentar até a última hora localizar os parentes dos mortos, pois não queremos demolir os túmulos e retirar os ossos", afirmou.
Silva afirmou que a Emdurb pretende reutilizar as áreas desapropriadas para novos enterros. O Cemitério da Saudade é o único de Bauru onde já não existem mais vagas para novos túmulos.
Segundo a Emdurb, esse cemitério possui 5.670 túmulos -a maioria deles é de ocupação perpétua. A prefeitura cobra R$ 600 para ceder uma vaga perpétua.
O historiador Gabriel Ruiz Pelegrina, 74, do Departamento de Pesquisa Histórica da Universidade do Sagrado Coração, enviou carta para a prefeitura dizendo que a desapropriação precisa ser reavaliada.
"Afinal, muitos dos jazigos considerados abandonados são de famílias de pioneiros da cidade, que fazem parte da história de Bauru", afirmou.
Segundo ele, ao invés de desapropriar túmulos de pioneiros, a prefeitura deveria fazer um trabalho de preservação dos locais.

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