São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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'Cidadão Cohn' estuda alma macarthista

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Talvez "Cidadão Cohn" (Globo, 22h30) tenha chegado um pouco tarde: em 1992, com o fim do comunismo, para que levantar a poeira em torno de Roy Cohn, advogado que foi eminência parda do macarthismo?
A verdade, porém, é que -para além de sua atuação na história recente dos EUA- o personagem tem um interesse simbólico. Roy Cohn representa todos os pequenos seres que tiram partido de certas situações para tornar avassaladores alguns pequenos poderes.
No caso, estamos na "caça às bruxas", a paranóica campanha anticomunista comandada pelo senador Joseph MacCarthy no pós-guerra. De um momento para outro, personalidades bastante conhecidas (sobretudo dos meios literários e cinematográficos) começam a sofrer constrangimentos dignos de qualquer stalinismo.
Ser o braço direito de MacCarthy significava agregar poder a sua própria figura, o que Roy Cohn -à parte seu brilho pessoal- soube fazer muito bem.
Para Frank Pierson, o diretor, o personagem é tudo que podia querer. Pierson é essencialmente um roteirista. "Cidadão Cohn" é um filme de roteiro.
Não é de espantar, assim, que as coisas funcionem muito bem, embora a idéia de "cidadão", vinculada a um filme, nos leva normalmente ao labiríntico "Cidadão Kane" de Orson Welles.
Aqui, Cohn é linear (apesar da narrativa em flash-back), o filme também. Mas têm ambos a virtude de mostrar um momento especial, em que a perseguição, baseada na delação ou em vagas suspeitas, torna-se norma. Daí surge uma engrenagem de poder que sacrifica a verdade para persistir. Isso vai além de Cohn e dos episódios em que se envolveu, que dão chance a James Woods de se mostrar, ainda uma vez, excelente ator.
(IA)

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