São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Artistas japoneses traduzem sua identidade em papel

CELSO FIORAVANTE
DA REDAÇÃO

O Masp inaugura hoje, para convidados, e amanhã, para o público, a mostra "Nipponjin Japonês, o Japão do Ponto de Vista de 23 Artistas", que reúne 70 cartazes dos mais conceituados artistas gráficos do país.
A eles foi pedido que transmitissem para o papel o significado de "ser japonês". Proposta árdua, mesmo para artistas de um país internacionalmente conhecido por sua unidade.
Desde 6 e 9 de agosto de 1945, quando das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, o Japão se reconstrói. Neste período, o país abriu-se e incorporou o ocidente ao mesmo tempo em que desenvolveu o orgulho de "ser japonês".
Neste paradoxo -que também se reflete em conceitos milenares, como yin e yang (feminino e masculino), ma e basara (concisão e excesso), tradição e vanguarda, detalhe e conjunto- se desenvolve o design gráfico japonês. Um choque que, ao mesmo tempo que provoca atrito e informação, amalgama as partes conflitantes, transforma-as em uma trama.
O designer gráfico Kenya Hara trabalhou com o conceito mínimo de uma trama -o laço- para descrever a dualidade nipônica. O laço pode prender, mas também soltar. Representa início e compromisso, mas guarda em si a raiz de desenlace, a libertação.
Masaaki Hiromura preferiu a trama dos grupos sociais: família, vizinhos, colegas de trabalho, torcedores do mesmo time de futebol. O indivíduo é um nó -ou um fio- na trama social. Une grupos distintos ou os perpassa.
O indivíduo colabora com a formação de um grupo social ao abrir mão de sua experiência e interagir. Em seus cartazes, uma boca enorme fala com uma infinidade de bocas minúsculas, grandes olhos vêem o mesmo que infinitos olhos menores. Todos mantém sua identidade como parte de um conjunto.
Dois dos artistas presentes, Katsuhiko Shibuia e Yoko Inoue, optaram com um conceito mais prosaico, mas fundamental à cultura japonesa: a trama da comida. Inoue trabalha com o particular. Representa o "ser japonês" como um homem que come "natto", prato à base de soja cujo detalhe é a viscosidade que vem de sua fermentação e que une seus grãos.
Já Shibuia, prefere o coletivo. Sobe em um avião para ver seu país como imensos campos de arroz, costurados pelos japoneses com o desvio de rios, o plantio de árvores e construção de aterros.

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