São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Líderes árabes vão ao enterro de Rabin

OTÁVIO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

O premiê israelense Yitzhak Rabin (pronuncia-se "itsrrác rábin), 73, assassinado sábado, foi enterrado ontem no cemitério do monte Herzl (Jerusalém) diante de alguns dos líderes mais importantes do planeta.
O caixão desceu ao túmulo após os pronunciamentos de Ezer Weizman (Israel), do rei Hussein (Jordânia), de Bill Clinton (EUA), de Shimon Peres (premiê interino de Israel), do egípcio Boutros Boutros-Ghali (secretário-geral da ONU), de Felipe González (Espanha), de Shimon Sheves (ex-chefe de gabinete de Rabin), de Hosni Mubarak (Egito), de Viktor Tchernomirdin (Rússia), da neta de Rabin e de Eitan Haber, seu assessor e amigo pessoal.
Líderes árabes que sempre se recusaram a ir a Jerusalém por não reconhecer a cidade como capital de Israel compareceram ao enterro de Rabin.
Os discursos destacaram o papel do premiê como artífice da paz no Oriente Médio, pelos acordos firmados entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina para a devolução aos palestinos de territórios ocupados por Israel em 1967. Sobre o caixão foi jogada terra vinda do local onde foi enterrado o presidente americano John Kennedy, assassinado em 1963.
"Perdoem-me se não quero falar da paz. Quero falar de meu avô, disse a neta de Rabin, Noa Ben-Artzi Philosof, 18, no discurso mais emocionante do funeral. O enterro foi patrulhado por 10 mil homens e cercado de severas medidas de segurança.
O judeu Yigal Amir, 25, confessou na Justiça ter atirado no premiê. "Não existe um processo de paz. É um processo de guerra", disse Amir. Hagai Amir, 27, irmão dele, preparou as balas usadas no atentado para que tivessem maior poder mortal, segundo a polícia. Yigal Amir já havia ameaçado verbalmente o premiê Rabin num debate. A polícia também suspeita os irmãos Amir sejam do grupo radical Kahane Vive, proibido depois que um de seus membros, Baruch Goldstein, massacrou 29 palestinos em fevereiro de 1994. Se condenado, Yigal Amir pode passar o resto da vida na cadeia. Em Israel, só há pena de morte para crimes contra a humanidade, genocídio e assassinatos múltiplos.
Acostumado a enxergar apenas radicais árabes como ameaça, o Israel passa a conviver com o risco de terroristas judeus. O governo criou uma comissão independente para investigar falhas que podem ter facilitado o atentado contra Rabin.
"Continuaremos levando a mensagem da paz para todos os lugares, afirmou o premiê interino Shimon Peres diante do caixão de Rabin. Peres, Rabin e o líder palestino Iasser Arafat dividiram o Nobel da Paz em 94 pelos acordos que assinaram.
Segundo o presidente da França, Jacques Chirac, Peres confirmou que serão realizadas eleições palestinas em janeiro nos territórios autônomos. Israel anunciou que deve retomar hoje a retirada de áreas ocupadas.

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sobre o assassinato de Yitzhak Rabin da pág. 2-2 à 2-6.

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