São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Amir confessa assassinato em tribunal

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O judeu Yigal Amir confessou ontem em um tribunal de Tel Aviv ter matado o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin.
Amir, 25, afirmou que matou o premiê israelense por causa da entrega de territórios para controle palestino.
"Eu agi sozinho, mas talvez com Deus", disse. A polícia está investigando a possibilidade de Amir pertencer a um grupo direitista clandestino conhecido como Eyal.
Segundo a polícia, o irmão de Amir, Hagai, que também está detido, disse ter preparado uma das balas usadas no atentado (leia texto ao lado).
Vestindo o que pareciam ser as mesmas roupas usadas na noite do assassinato de Rabin e com um solidéu negro na cabeça, Eyal afirmou que não matou Rabin "para paralisar o processo de paz, porque não existe o conceito de processo de paz, é um processo de guerra".
"Meu dever era matar Rabin. Era um dever sagrado", afirmou. "As pessoas são indiferentes ao fato de que um Estado palestino está sendo criado aqui."
O tribunal determinou que Amir fique preso por 15 dias, enquanto a polícia prepara as possíveis acusações contra ele, que incluem assassinato premeditado, a tentativa de assassinato do guarda-costas de Rabin (ferido durante o atentado) e a participação do estudante em uma organização ilegal.
A polícia secreta de Israel pediu à corte que Amir seja proibido de ter contato com seu advogado durante dois dias, enquanto se verifica se ele agiu mesmo sozinho.
Amir afirmou que, de qualquer modo, não queria advogado. Seu defensor, Mordechai Ofri, disse ter sido escolhido pela família e por "outras pessoas", cuja identidade não revelou.
Afirmou apenas que eles não se apresentaram como um grupo organizado.
Segundo a polícia, Amir se aproximou do premiê israelense após um comício pela paz na praça dos Reis e deu três disparos com uma pistola Beretta.
Rabin recebeu dois tiros e morreu após ser levado para o hospital. A terceira bala feriu um de seus guarda-costas.
"Todos estão sensibilizados com o assassinato de um primeiro-ministro que se prostrou ante todos os países do mundo", disse Amir a jornalistas no tribunal.
"A nação não se importou com o fato de o primeiro-ministro foi eleito por 20% de árabes. Eu estava na manifestação. Era 50% de árabes. O que vocês vão fazer quando houver 2 milhões de árabes aqui? Daremos o Estado aos árabes?", questionou.
"O suspeito confessa o assassinato do primeiro-ministro Yitzhak Rabin (...) e não nega que o planejou com antecedência e o fez com lucidez" afirmou o juiz Dan Arbel ao tribunal.
Se condenado, Amir deve passar o resto da vida na prisão. A lei israelense só prevê pena de morte em casos de crime contra a humanidade, assassinato múltiplo e crime contra a humanidade.
Yigal Amir é o segundo filho de uma família de oito irmãos e mora com os pais em um subúrbio de Tel Aviv.
Sua mãe dirige uma escola de enfermagem, e seu pai, é um escriba religioso.
Os dois são judeus ortodoxos que vieram do Iêmen.
Depois de concluir o serviço militar, entrou na universidade religiosa de Bar-Ilan, perto de Tel Aviv. A universidade é apontada como um dos centros dos extremistas judeus contrários ao processo de paz.
Amir cursava o terceiro ano de direito e estudava também informática e religião na Bar-Ilan.
Ele organizou e participou de protestos direitistas contra os acordos de paz na universidade e na Cisjordânia, onde liderou visitas a acampamentos judeus.

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