São Paulo, terça-feira, 7 de novembro de 1995
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Medo de uma Israel fraturada reaparece

JAIME SPITZCOVSKY
EM SÃO PAULO

O israelense que apertou o gatilho para deflagrar a tragédia de Tel Aviv carrega origem iemenita. O detalhe geográfico revive uma discussão antes adormecida e que sempre ameaça fraturar a sociedade de Israel: as diferenças entre judeus com ascendência na Europa Central e Oriental e aqueles com ascendência árabe.
Os judeus oriundos de países árabes, como Iêmen e Marrocos, tradicionalmente apóiam os partidos de direita, refratários à paz.
Perseguições e discriminações sofridas nas mãos de regimes árabes opostos ao surgimento de Israel explicariam a intolerância nessa fatia da sociedade israelense.
O movimento pacifista em Israel também conta com militantes de origem árabe. Mas não há como negar que, historicamente, os partidos de esquerda, mais dispostos ao diálogo com o inimigo, tiveram sua direção monopolizada por judeus de origem européia central ou oriental, conhecidos pela palavra hebraica "ashkenazim".
O Estado de Israel foi criado em 1948 por judeus que emigraram sobretudo da Europa Oriental. Vinham influenciados por idéias socialistas e tradições democratizantes que modelavam o pensamento europeu da virada do século.
Fundado o Estado de Israel, o movimento sionista passou a organizar a imigração de judeus que viviam no mundo árabe. As décadas de 50 e 60 testemunharam o crescimento de um setor da sociedade mais habituado à truculência de regimes como o do Iraque e do Iêmen do que ao debate democrático do Partido Trabalhista.
Os judeus de origem européia e entrincheirados no trabalhismo acabaram formando a elite dirigente de Israel. Em 1977, o Likud, partido de direita, chegou ao poder pela primeira vez graças ao voto dos israelenses de origem árabe, pois prometia acabar com o monopólio dos "ashkenazim". Curiosamente, o discurso saia da cartilha de um europeu: Menachem Begin.
Nos anos 90, os judeus "sefaradim", de origem oriental, são mais de 50% da população e verificam uma ascensão na escala social. Chegaram a ter um chanceler e passaram a ocupar cargos de direção nos principais partidos, com preferência pelos de direita.
O medo de uma Israel fraturada entre "ashkenazim" e "sefaradim" diminuiu recentemente, depois do ápice nos anos 70 e 80.
A origem iemenita do assassino de Rabin ameaça reacender uma discussão que muitos israelenses achavam estar ultrapassada.

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