São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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FHC repreende Vieira e Graziano em discurso

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou a cerimônia em que assinou atos para acelerar o processo de reforma agrária para para repreender publicamente o ministro da Agricultura, Andrade Vieira, e o presidente do Incra, Francisco Graziano. Os dois têm divergências sobre a política de reforma agrária do governo.
"Não adianta fazer intriga uns contra outros. Isso não funciona no espírito de cooperação, de convergência de valores e de pontos de vista", disse Fernando Henrique, após referência direta aos dois, que estavam ao seu lado. FHC lembrou ao ministro que "cedeu" Graziano -que trabalhava em seu gabinete pessoal- para cooperar com a reforma.
O processo de pacificação entre os dois começou antes da cerimônia. A 13 minutos do seu início, FHC mandou chamar os dois a seu gabinete e acertou os detalhes dos discursos que ele e Vieira fariam.
Após a repreensão, Graziano e Andrade Vieira posaram para fotos abraçados. Os dois deram declarações negando qualquer atrito.
FHC disse, em discurso, que vai manter o compromisso que assumiu com os sem-terra, de assentar 280 mil famílias em seu governo, como afirmou durante a campanha eleitoral.
Utopias
Fernando Henrique aproveitou o discurso para aplicar na reforma agrária a tese das utopias, do seu amigo e educador Paulo Freire. "Gosto de me referir a uma expressão que é uma contradição em termos: uma utopia possível, uma utopia realista", disse.
Em seguida, tratou de definir utopia, palavra que usou seis vezes em seu discurso. "Em geral, utopia é alguma coisa que você divisa para negar tudo que existe. Não creio que esse seja o caminho. (A reforma agrária) é uma utopia sim, porque se tem um objetivo que é uma melhora. Vamos chegar à meta fixada", afirmou.
FHC disse que está fazendo a reforma agrária dentro do possível e com negociação -"sempre com negociação", enfatizou. Segundo ele, "não funciona a utopia de que será possível fazer no atropelo qualquer coisa."
Durante a cerimônia, Graziano recebeu o primeiro exemplar de uma coletânea de discursos feitos por FHC quando recebeu títulos em universidades.
O livro ganhou o nome de "Utopia Viável" e, segundo Graziano -que organizou o material quando era seu assessor-, FHC não sabia que o livro tinha ficado pronto ontem e que tinha esse título.
O presidente disse ainda que tem lido nos jornais "uma porção de invencionices" sobre a reforma agrária e afirmou que "no Brasil é assim mesmo". Segundo ele o seu governo é de construção, mas "poucos constroem e muitos estão sempre dispostos a destruir, mas os que constroem, tendo convicção, ganham dos que querem destruir."
FHC afirmou ainda que o processo de reforma agrária não será encerrado em seu governo. "Não se acaba em um ano, dois ou três, mas nós temos de criar um movimento, uma dinâmica que, dentro desse espírito de compreensão, de respeito à lei, de boa vontade, se torne também um processo irreversível", afirmou.

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