São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Invasor admite uso de coquetel Molotov

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTA ISABEL DO IVAÍ

O sem-terra Pedro Lopes dos Santos, 51, afirmou que os sem-terra usaram coquetéis Molotov contra os policiais para resistir ao despejo na fazenda Saudade, em Santa Isabel do Ivaí (PR), na última quarta-feira.
Coquetel molotov é uma bomba rudimentar fabricada com garrafa, gasolina e pavio de pano.
Santos foi o primeiro sem-terra a ser baleado no conflito da última quarta-feira na fazenda Saudade, em Santa Isabel do Ivaí (580 km a noroeste de Curitiba).
Espancado
Santos afirmou ter sido arrastado por três policiais por mais de 60 metros no asfalto, enquanto era espancado.
No confronto, 21 pessoas ficaram feridas. Noventa policiais foram à fazenda despejar os invasores, por determinação judicial.
Segundo o sem-terra, os coquetéis Molotov foram apenas uma reação ao ataque da polícia, que, segundo ele, lançou primeiro bombas de gás lacrimogêneo.
"Depois da terceira bomba de gás nós jogamos algumas bombas de gasolina para assustar. Mas foi uma luta desigual, uma covardia."
Santos conversou com a Agência Folha em um enfermaria da Santa Casa de Paranavaí (520 km a noroeste de Curitiba).
Quando sair do hospital, disse que vai se juntar aos amigos e continuar a lutar por terra.
"Tenho 51 anos e desde menino só dei camisa para fazendeiro. Não conheci outra profissão a não ser colono ou bóia-fria. Vou lutar para, pelo menos, morrer em uma terra que seja minha."
Inquérito policial
O delegado regional de Loanda, Fátimo Siqueira, disse ontem que irá anexar ao inquérito policial fotos publicadas ontem na imprensa em que aparece um coquetel Molotov sendo arremessado contra a PM. "Essa é uma prova de que os sem-terra estavam armados."
Siqueira disse que todos os sem-terra que forem identificados serão "indiciados no inquérito por obstrução à Justiça".
Eles poderão ser denunciados com base no artigo 329 do Código Penal,"por opor-se à execução de ato legal, mediante violência".
O delegado disse ainda que os sem-terra possuíam quatro espingardas. "Foram apreendidas junto com facões, foices e enxadas usadas pelos sem-terra", disse. Os sem-terra negam o uso de armas.
O delegado disse que não pensava em instaurar inquérito para apurar possível violência policial.
Uma comissão de deputados da Assembléia Legislativa do Paraná apurou que pelo menos dois sem-terra foram baleados depois de dominados pela polícia.
A juíza Elisabeth Khater, de Loanda, confirmou ontem que a PM cumpria mandado de manutenção de posse, ao contrário do que informaram os sem-terra.

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