São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Nigéria executa nove dissidentes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo da Nigéria executou ontem o escritor e poeta nigeriano Ken Saro-Wiwa e outros oito ativistas de direitos humanos, disseram autoridades do país.
Segundo a agência de notícias nigeriana "Nan", eles foram enforcados às 11h30 locais (8h30 de Brasília), na prisão Port Harcourt, sul do país.
Saro-Wiwa desenvolveu campanha de apoio aos 500 mil nigerianos da etnia ogoni (minoritária) que vivem em região rica em petróleo no sul do país.
Os ogonis denunciam que suas terras e águas estão sendo contaminadas pela exploração desenfreada do petróleo.
O escritor, fundador do Movimento pela Sobrevivência do Povo Ogoni (MSPO), foi sentenciado à morte junto com os oito membros do grupo, em 31 de outubro.
Eles foram acusados de assassinar quatro dirigentes políticos ogonis durante uma manifestação, em 1994. Eles negavam o crime.
O general Sani Abacha, que lidera a junta militar no poder no país, recusou todos os pedidos de clemência enviados durante a semana por líderes internacionais.
Madeleine Albright, embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, disse que seu país vai apresentar propostas contra a Nigéria no Conselho de Segurança da ONU, por violação dos direitos humanos.
Pauline Green, líder do Bloco Socialista, principal agrupamento político no Parlamento Europeu, pediu que sejam suspensos os acordos comerciais com a Nigéria.
Líderes dos 52 países pertencentes à Comunidade Britânica (Reino Unido e ex-colônias), reunidos na Nova Zelândia, também estudavam impor sanções contra a Nigéria, parte do grupo.
"Eu recomendaria qualquer ação para indicar ao governo nigeriano que nós condenamos totalmente o que eles fizeram", afirmou o presidente a África do Sul, Nelson Mandela. Ele propôs que o país seja expulso do grupo.
A entidade de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional disse que a Nigéria silenciou um de seus maiores críticos. A Áustria chamou de volta seu embaixador na Nigéria.
Os escritores Isabel Allende, Arthur Miller, Normam Mailer e Seamus Heaney, vencedor do Nobel de Literatura deste ano, entre outros, condenaram as mortes.
Saro-Wiwa havia acusado a companhia Shell de ser a responsável pela destruição do território.
O grupo ambientalista Greenpeace acusou a Shell de ter "sangue nas mãos", referindo-se aos 40 anos de exploração na região. A empresa deplorou as execuções, mas disse não ter planos de alterar suas operações no local.

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