São Paulo, sábado, 11 de novembro de 1995
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Hamas estuda tornar-se partido político

OTÁVIO DIAS
DO ENVIADO ESPECIAL

Embora afirmem não aceitar os termos do acordo de paz assinado pelo líder da Organização para a Libertação da Palestina, Iasser Arafat, e pelo governo de Israel, os grupos extremistas islâmicos Hamas e Jihad Islâmica decidiram participar do possível processo de formação de um Estado palestino na faixa de Gaza e na Cisjordânia.
Tanto o Hamas (Movimento de Resistência Islâmico) quanto a Jihad (Guerra Santa) aceitaram dialogar com a Autoridade Nacional Palestina, a entidade política presidida por Iasser Arafat que administra no momento os territórios antes ocupados por Israel e agora sob autonomia palestina.
"Nosso objetivo é estabelecer um sistema de controle para a chamada área sob autonomia, disse à Folha o porta-voz do Hamas, Mahmud al Zahar, 50, em entrevista realizada ontem em sua casa na cidade de Gaza.
"No momento, tudo é decidido de acordo com a vontade de Arafat. Não temos um sistema econômico, legal ou social. Vamos sistematizar tudo isso de acordo com o que é chamado de democracia, disse.
O Hamas autorizou seus simpatizantes a se registrar como eleitores e deve fundar um partido político. "Isso não quer dizer que participaremos das eleições. Isso será decidido mais tarde", afirma o porta-voz do Hamas.
O registro dos eleitores nos territórios antes ocupados por Israel e hoje sob administração da Autoridade Nacional Palestina deve começar na semana que vem. As eleições devem ocorrer em janeiro próximo.
Já o porta-voz da Jihad, Abdallah Elchami, afirma que as negociações se limitarão a questões sociais. "Somos contra o processo de paz. Queremos discutir os problemas sociais de nossa terra", disse Elchami à Folha.
Os dois porta-vozes criticaram a administração da Autoridade Nacional Palestina. Segundo eles, a situação econômica está pior do que durante a ocupação israelense.
"Os preços estão muito altos, o produto nacional está caindo e os impostos aumentaram", afirma El Zahar.
"O lado positivo é a ausência de judeus controlando nossas ruas e nossos mercados."
Israel transferiu a autonomia da faixa de Gaza em 4 de maio de 1994, segundo acordo firmado com a OLP em setembro de 1993.
Ambos negaram que as conversas com a Autoridade Nacional Palestina representavam uma aceitação do processo de paz e, em última análise, do Estado de Israel.
Também rejeitaram a possibilidade de abrir mão da violência como estratégia de ação.
A Jihad e o Hamas são responsáveis por diversos ataques terroristas em Israel.
"Já tentamos recuperar nossas terras por métodos pacíficos, mas não tivemos um sucesso", diz o porta-voz do Hamas.
"Israel só entende a linguagem das armas. É a língua que eles estão acostumados a falar", continua El Zahar.
"Os judeus podem viver conosco, como fizeram durante milhares de anos. Mas só há um Estado na Palestina", afirma o membro da Jihad Islâmica.
"Nosso desejo é de continuar lutando para recuperar toda a nossa terra."
(OD)

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