São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Abono salarial substitui até reajuste e já gera polêmica

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na era da livre negociação, os abonos salariais estão substituindo aumento real (acima da inflação) e até mesmo os reajustes para repor perdas do poder aquisitivo.
Grandes categorias profissionais, como metalúrgicos e bancários, aceitaram a troca, às vezes a contragosto.
Os bancários da Caixa Econômica Federal, com data-base em setembro, por exemplo, após nove dias úteis de greve, aceitaram R$ 550 de abono.
Ficaram sem aumento real e nem as perdas salariais foram repostas. Ganharam reajuste de 20,94%, previsto na lei, quando precisariam de no mínimo 25,18% para repor perdas. A liderança da categoria é ligada à CUT.
Para empresários e estatais, a vantagem é que esses abonos -a título de participação nos lucros ou não- não são incorporados aos salários. Sobre eles não é necessário pagar encargos sociais, férias, 13º e FGTS.
Se a troca beneficia os trabalhadores ainda é uma questão polêmica. De qualquer forma, os abonos servem como um refresco imediato diante do endividamento elevado da população.
"A lei garante que os abonos a título de participação nos lucros ou resultados não tenham encargos. E os empresários estão adorando trocar esses abonos pelos aumentos reais a título de produtividade", diz Wilson Amorin, um dos coordenadores do Dieese, órgão que assessora os sindicatos.
"O nosso acordo prevê que a produtividade já é um dos critérios para se obter abono de participação nos resultados. Se a produtividade está no abono, não deve ser incorporada também ao salário", diz Laerte Augusto Galizia, coordenador de negociações do sindicato patronal de esquadrias metálicas do Estado de São Paulo.
No acordo deste ano com os metalúrgicos da Força Sindical, com data-base em novembro, Galizia acertou abono de 60% do piso, em duas parcelas, a título de participação nos resultados, para 55 mil trabalhadores.
"Nós pedíamos aumento real de 15%, mas Galizia propôs dar 2,5% mais o abono. Achei interessante a história", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical), Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.
Segundo ele, o abono é equivalente a 4,9% de aumento real em um ano para quem ganha o piso.
"O abono é uma forma indireta de aumento real: em vez de percentuais grandes, difíceis de justificar com a inflação mais baixa do Plano Real, estamos negociando valores absolutos", diz o presidente do Sindicato dos Químicos do ABCD e tesoureiro da CUT, Remigio Todeschini, o Remi.
A posição dos dois não é unânime no movimento sindical.
"O problema é que os aumentos de produtividade, quando não são incorporados, não geram crescimento no salário real nem distribuição de renda. O abono é pago, vai para saldar dívidas, e acaba. E o salário, continua o mesmo", diz o coordenador do Dieese.
"Não aceitamos esse tipo de troca. Aumento real é uma coisa, reajuste, outra, e participação nos lucros, outra", diz Carlos Alberto Grana, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD.
Francisco Francilino, coordenador da Confederação dos Químicos da CUT, concorda com Grana.

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