São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Queda da taxa de juro deixa poupança menos competitiva

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Os juros nominais estão caindo, mês a mês, para todas as aplicações financeiras. A queda, porém, deixa a poupança menos competitiva em relação a seus concorrentes, por conta de uma distorção no cálculo da TR (Taxa Referencial).
Quanto menor o juro, maior a diferença entre o crédito da poupança e a rentabilidade, por exemplo, dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) prefixados, cuja taxa bruta é justamente a base de cálculo da TR.
A TR, fixada pelo Banco Central, baseia-se na média dos juros brutos dos CDBs. Até aí, nada de novo. Feita a média, aplica-se um redutor de 1,3% sobre ela para a obtenção da TR. Se a média é 3%, por hipótese, a TR será 1,6782% (divida 1,03 por 1,013).
Acontece que esse mecanismo, numa fase de juros declinantes, tende a diminuir o tamanho da TR (e da poupança) em relação ao rendimento efetivamente recebido por investidores em CDBs e mesmo em Fundos de Investimento Financeiro, os FIFs. A caderneta só bate o FIF de curto prazo, diário.
Um CDB comprado por grande investidor no dia 2 de outubro, quando já estava em vigor o redutor de 1,3%, tinha taxa bruta de 2,99%. Descontado o imposto na fonte de 10%, o aplicador ficou com 2,69% de taxa líquida.
No mesmo dia, quem colocou o dinheiro na poupança recebeu, no início de novembro, um crédito de 2,3277%. Ou seja, 86,53% da taxa líquida obtida com o CDB.
Um mês depois, no dia 1º de novembro, com juros mais baixos em todo o mercado, o CDB de grande investidor pagava 2,76% de taxa bruta e 2,48% de líquida.
O poupador na mesma data receberá de crédito, em 1º de dezembro, 1,9458%. Essa taxa corresponde a 78,46% do CDB líquido, oito pontos a menos.
CDB pago a quantias elevadas é sempre mais rentável do que a poupança, obviamente. Mas, com a forma de cálculo do redutor da TR e os juros em queda, aumenta a distância entre as duas aplicações.
Proposta
A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) identificou essa distorção e já sugeriu ao Banco Central, há cerca de 20 dias, que a fórmula seja alterada.
A proposta, explica José Gonçalves Pereira, consultor técnico da entidade, é de troca do redutor fixo por uma relação fixa entre média de CDBs e TR, a ser definida pelo próprio BC. A fórmula atual, diz ele, estimula a volatilidade na captação de recursos.
Por enquanto, essa queda de rentabilidade da poupança diante das outras aplicações não está sendo significativa. Passa até despercebida. Mas a tendência dos juros é de queda ainda maior nos próximos meses, conforme o mercado futuro de CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Fábio de Araújo Nogueira, diretor de crédito imobiliário e poupança do Banco de Boston, acha que até o final do ano nada muda no cálculo da TR.
As perdas de recursos da poupança tendem a ser revertidas a partir do final deste mês.
Mas em janeiro, mês tradicionalmente ruim para a captação na caderneta, é possível alguma mudança, ainda mais se inflação e juros se mantiverem em queda.

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