São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Local da morte ainda é incerto

MARILENE FELINTO
DA ENVIADA A MACEIÓ

Uma das últimas descobertas sobre a trajetória de Zumbi de Palmares refere-se ao local de sua morte, uma gruta na serra Dois Irmãos, em Alagoas. Sobre esse local, todas as pesquisas citam observações do historiador alagoano Alfredo Brandão, no livro "Viçosa de Alagoas" (ed. Imprensa Industrial, Recife, 1914).
Brandão foi o primeiro a esclarecer por que Zumbi teria sido morto na serra Dois Irmãos e não na serra da Barriga: "Os últimos combates dos Palmares se realizaram na serra do Bananal, nome que servia para designar não somente o atual prolongamento da serra Dois Irmãos como também esta última".
O historiador afirma que Zumbi estava escondido em um "sumidouro", espécie de gruta escavada pela ação do curso subterrâneo das águas de um rio. Brandão cita documento de 18 de agosto de 1696, do Conselho Ultramarino, que se refere a um sumidouro que teria sido "artificiosamente" construído por Zumbi.
Segundo Zezito de Araújo, professor da Universidade Federal de Alagoas, as únicas pesquisas feitas até hoje nesta região da serra Dois Irmãos, local de difícil acesso, são de autoria do arqueólogo Aloísio Vilela e do geógrafo Ivan Fernandes Lima, morto em 1994.
Procurado pela Folha em Alagoas, Aloísio Vilela não quis atender a reportagem, que, no entanto, teve acesso ao trabalho ainda inédito de Fernandes Lima, o livro "O Quilombo dos Palmares - Uma Geografia da Liberdade, Contribuição ao Estudo Geográfico do Quilombo dos Palmares", resultado do estudo geomorfológico da serra Dois Irmãos, onde o geógrafo esteve entre 1988 e 1992. Fernandes Lima faz a descrição do sumidouro onde Zumbi foi morto, contestando a localização proposta por Brandão.
(MF)

O que diz Alfredo Brandão:
"Não é pois de admirar que o Zumbi se tivesse refugiado a princípio no (mocambo de) Sabalangá e mais tarde na serra que lhe fica próxima -a serra Dois Irmãos-, a qual, por causa dos seus desfiladeiros, seus penhascos abruptos e suas gargantas profundas, por uma das quais se precipita o Paraíba, poderia oferecer as condições de estratégia e resistência. (...)
Um velho caboclo narrou a uma pessoa do meu conhecimento que, estando a pescar de mergulho num poço do Paraíba, ao pé da serra, viu que do lado da escarpa, por baixo d'água, se abria um sumidouro (...). Afirmava ainda que percebera nas paredes uns letreiros que não entendera (...)." (1)
O que diz Fernandes Lima:
"Até o momento não tivemos oportunidade de encontrar (...) uma referência a um 'escavado' (...), conforme o relato do 'velho caboclo' ao historiador Alfredo Brandão (...). Para tirar as dúvidas do informe, o arqueólogo viçosense Aloísio Vilela (...) tentou 'barrar' o Paraíba (...). Nada do que se falava encontrou.
Fomos levados a pesquisar o mesmo local e suas imediações (...). A alusão ao sumidouro nos leva a pensar que este seria um local de esconderijo camuflado pela natureza, no qual o chefe Zumbi escondia-se nos momentos de ataque ao seu novo mocambo (...).
Se essa nova povoação ou o quilombo Zumbi 2 ficava nas proximidades do sumidouro, não estava, como se pode supor, um tanto próxima daquela de Sabalangá ou Dambrabanga, bem como da cidade de Viçosa; estaria a sudeste de ambas, um morro na frente e ao norte da serra Dois Irmãos, formando, antes de o rio Paraíba descer, seu 'cañón' (...)." (2)

FONTES
1. Alfredo Brandão, "Viçosa de Alagoas", ed. Imprensa Industrial, Recife, 1914
2. Fernandes Lima, "O Quilombo dos Palmares", Sergasa, Gráfica do Estado de Alagoas. O livro está no prelo, aguardando verba para publicação

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