São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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ZUMBI DO BRASIL

MARILENE FELINTO; CLEUSA TURRA
ENVIADA ESPECIAL A AMSTERDÃ (HOLANDA)

CLEUSA TURRA
Secretária-assistente de Redação
Em busca de elementos que dessem rosto ao simples nome de Zumbi (1655-1695), líder negro da heróica resistência do Quilombo de Palmares, a Folha percorreu os caminhos da pesquisa histórica sobre o assunto, dentro e fora do Brasil.
Sobre a vida de Zumbi, sabe-se pouco. Nasceu em Palmares e foi capturado e criado por um padre português até a adolescência, quando fugiu para o quilombo. Os palmarinos, embora seu líder falasse latim e bom português, não deixaram registro da sociedade livre que criaram durante a escravidão.
A Folha esteve na Holanda e em Portugal, além de quatro cidades brasileiras (Maceió, Porto Alegre, Recife e Salvador), para compor um panorama do que se passou há 300 anos. Encontrou no Brasil arquivos em péssimo estado de conservação e em Portugal catalogações pouco criteriosas.
Certamente haverá surpresas quando pesquisas mais aprofundadas sobre o tema forem realizadas. Alguns historiadores, afastando-se das interpretações oficiais ou militantes, começam a questionar a atitude de Zumbi ao recusar a paz proposta pelos portugueses. Discutem se ele não deveria ter seguido o caminho da diplomacia, como seu tio, Ganga-Zumba, que celebrou o primeiro acordo com o governo da Capitania de Pernambuco, em 1678.
Apesar do esforço de pesquisa realizado pelos profissionais da historiografia brasileira nas últimas décadas, ainda há muito a ser descoberto. No Museu Ultramarino, em Lisboa, parte dos manuscritos do século 16, microfilmados há dois anos, nunca tinha sido consultada até a visita da Folha ao museu.
Situação semelhante verificou-se na Holanda, onde muitos documentos sobre a escravidão na colônia ainda aguardam tradução do holandês. Em Portugal, arquivos estão sendo leiloados para particulares, em verdadeiro processo de dispersão, sem que pesquisadores tenham conhecimento deles.
Neste caderno, a Folha entrevista historiadores estrangeiros e brasileiros. Compara o velho com o novo, revê teorias, apresenta novas interpretações da figura desse homem, cuja vida, entretanto, não valia mais do que cem mil réis e um punhado de farinha de mandioca para o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, chefe da milícia armada contratada pela Coroa portuguesa para matá-lo e destruir Palmares.

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