São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Cromossomos podem explicar a origem da doença de Alzheimer

Gene seria a causa mais comum da doença entre 30 e 60 anos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em 1992, Gerard Schellenberg, da Universidade de Washington (EUA), encontrou indícios da existência, no cromossomo 14, de um gene relacionado com alta porcentagem de casos do mal de Alzheimer familiar.
Agora, em fins de junho, Peter St. George-Hyslop, da Universidade de Toronto (Canadá), descreve na revista britânica "Nature a identificação desse gene em 70% a 80% dos casos de Alzheimer precoce familiar, o que corresponde a 10% dos casos da doença.
Parece tratar-se da causa molecular mais comum de Alzheimer precoce, isto é, de início entre 30 e 60 anos de idade.
Antes desse gene, sem dúvida o mais importante, dois outros haviam sido descritos nessa doença, um no cromossomo 21, autossômico, dominante e ligado a forma precoce da doença, porém frequente em apenas 2% a 3% das famílias, e outro, no cromossomo 19, que não é propriamente um gene da doença, porque não causa a Alzheimer em todos os que o herdam, mas apenas aumenta o risco do desenvolvimento da forma tardia do mal, a mais comum.
Existe referência a um quarto gene, ainda não identificado, que seria dominante e autossômico, atingindo possivelmente 20% dos casos familiares. Cromossomo autossômico é o que não é sexual.
O segundo produz uma proteína chamada apoE4, e o terceiro fabrica proteína precursora da beta-amilóide (APP) -substância que se encontra nas placas senis da moléstia e em outros pontos isolados da célula nervosa ou neurônio.
Houve verdadeira corrida para identificar o gene depois que Schellenberg o denunciou, mas a parada foi ganha pela equipe de Hyslop, que começou sua busca organizando mapas genealógicos de famílias propensas à Alzheimer nas quais estava presente o cromossomo 14, e depois o grupo começou a procurar marcas de DNA (ácido desoxirribonucléico) dessas famílias (regiões que devem indicar a proximidade do gene).
Chegou a equipe, em começos de 1994, a "cercar o gene e logrou localizá-lo e analisá-lo.
Assim surgiu o gene S-182, que em sete famílias apresenta cinco mutações diferentes.
Só nos Estados Unidos, há cerca de 500 mil pessoas que correm o risco de ter o mutante S-182.
O passo seguinte será encontrar a cura, o que depende do conhecimento do mecanismo da doença.
Está muito em foco, para esse fim, a proteína produzida pela membrana, talvez implicada no transporte protéico.
As coisas ainda estão meio confusas a esse respeito, especialmente em face dos resultados relativos à beta-amilóide e à APP.
Nada disso é, todavia, desanimador, pois, sempre que se descobre um gene de doença, surgem muitas hipóteses novas, enquanto velhas questões são ressuscitadas, como o papel causal ou meramente consequencial da beta-amilóide e das substâncias que contribuem para sua formação.

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