São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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Mai...minoria

Baixadas na madrugada de sábado da semana passada, as medidas para estimular processos de fusão e incorporação de bancos sofreram uma bateria de críticas na imprensa e no Congresso Nacional.
Há três questões em jogo, todas essenciais. Elas dizem respeito à legitimidade, aos critérios e à implementação do programa.
Em primeiro lugar, como ilustraram os debates dos últimos dias, nenhum programa de resgate de bancos terá sucesso em condições políticas inadequadas, ou seja, sem legitimidade. Não é demais repisar, nesse sentido, a extrema infelicidade de se ter lançado o programa na madrugada de um fim-de-semana.
As dúvidas e os boatos, descabidos ou não, têm um poder letal nos circuitos financeiros. Houve logo quem especulasse com a hipótese de conluio entre as autoridades monetárias e bancos privados em dificuldades ou mesmo já prestes a incorporar outras instituições.
Houve também quem lembrasse do compromisso do presidente, não colocar um centavo público no Econômico, aparentemente desmentido pela nova orientação.
Enquanto essa algaravia especulativa não estiver esclarecida, ao Proer faltará legitimidade.
Nisso pode jogar um papel central a segunda questão, dos critérios do programa. A legitimidade depende, e muito, da racionalidade dos critérios de aplicação de recursos públicos no processo. Nem basta anunciar a duração das benesses ou justificar essa ou aquela providência técnica. É preciso também esclarecer com que tipo de crise o Banco Central pensa estar lidando.
Mas, para que a legitimidade e os critérios do programa se reforcem mutuamente, é preciso ainda garantias, ao longo da implementação, de que as medidas são consistentes com outras políticas macroeconômicas. É hoje crucial avaliar se a injeção de recursos em bancos em dificuldades ou a opção por alguma renúncia fiscal não minam as bases da estabilização conquistada, até agora, com bastante sacrifício.
O governo está longe ainda de garantir à opinião pública que esses três critérios serão observados. A começar pelo incidente em que presidente do BC, Gustavo Loyola, cometeu o significativo ato falho de comentar sobre os bancos que "os que não forem fortes, claro, vão sofrer, mas eles são a mai...minoria'.

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