São Paulo, domingo, 12 de novembro de 1995
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A globalização e o Terceiro Mundo

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Neste mundo em que as comunicações permitem contatos imediatos, é enorme a distância que ainda existe entre os países pobres e os ricos. Na última segunda-feira os governantes do Grupo dos 15 reclamaram amargamente da insensibilidade dos governantes do Grupo dos 7. Como conclusão da reunião de Buenos Aires ficou acertado que o G-15 vai mandar um documento para o G-7 no qual os mais pobres pedirão ajuda aos mais ricos.
O que se pretende com esse pleito? Nada mais, nada menos do que uma atenuação dos estragos provocados pela globalização da economia.
De fato, a abertura das economias dos países mais pobres está ocorrendo dentro de um ambiente muito perverso. Ela coincide com os esforços de combate à inflação, o que equivale à elevação da taxa de juros, restrição de crédito e desaquecimento dos investimentos produtivos -públicos e privados.
Esse quadro dá pouca oportunidade para os países mais pobres investirem na modernização dos processos produtivos com a velocidade necessária. As tecnologias modernas nos setores da medicina, medicamentos, biotecnologia, eletrônica, telecomunicações e processos industriais em geral são muito caras.
Por sua vez, o fim da Guerra Fria nos países mais ricos e que têm baixo crescimento demográfico permitiu investimentos de grande monta nessas áreas. As novas tecnologias aumentam a produtividade. Criam novos produtos. Precipitam a obsolescência. Reduzem os custos de comunicação e transporte. Internacionalizam os negócios. Alteram as vantagens comparativas das empresas e dos países. E geram desemprego.
A contração dos investimentos nos países em via de estabilizar suas moedas dificulta a competição. Com taxas de crescimento demográfico ainda altas, esses países correm o risco de ver globalizar a pobreza, e não a riqueza. Além do mais, a revolução tecnológica exige mudanças nas instituições sociais e uma elevação substancial da educação -o que sempre demanda tempo.
Como tudo isso é difícil, espera-se do governo um papel estimulador das inovações e moderador na internacionalização da economia. Uma abertura abrupta pode acarretar grandes perdas à nação. Vejam o que acontece com as indústrias de autopeças, tecidos, calçados e até brinquedos. A entrada desgovernada de produtos importados está determinando o fechamento de empresas e a destruição dos empregos.
Ninguém pode ser contra a modernização e a globalização da economia, da mesma maneira que ninguém pode ser a favor da destruição de empresas e postos de trabalho. O apelo do G-15 ao G-7 teve esse alcance, mas duvido que os países ricos venham a se importar com os problemas dos países pobres.
Ao contrário, penso que a solução desse problema depende mais dos 15 do que dos 7. Temos de trabalhar mais intensamente. Baixar nossos juros. E educar a nossa gente.
Se isso não acontecer, voltaremos a ser um país exportador de produtos básicos. Adeus, manufaturados... A quem interessa tudo isso? Exatamente aos países desenvolvidos.

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