São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
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Agricultura perde espaço para as importações

NEY BITTENCOURT DE ARAÚJO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há um mercado de alimentos fantástico no Japão. Em 94, as importações de alimentos atingiram US$ 47,2 bilhões, com crescimento recorde de 17,3% em relação ao ano anterior.
Isto, entretanto, não significa que o mercado consumidor esteja crescendo. Com população estável, o Japão está perdendo sua capacidade de produzir alimentos.
As avaliações do Ministério da Agricultura japonês demonstram a rápida deterioração do país na capacidade de oferta interna de alimentos. Em 82, 52% dos alimentos consumidos no Japão eram produzidos no país. Em 93, este número caiu para 37%.
Há várias razões para esta crise. A agricultura, apesar dos pesados subsídios, não atrai a população japonesa.
A idade média dos agricultores varia entre 50 e 60 anos. A sobrevalorização do iene, combinada com o alto preço das terras -disputadas pela expansão urbana-, produz o mais alto custo de produção do mundo.
A terra no Japão é cem vezes mais cara que nos EUA, 25 vezes mais cara que na França, 12,5 vezes mais que na Inglaterra. Não há subsídio que possa fazer a agricultura japonesa competitiva.
Mas o problema não reside apenas na fazenda. O alto custo da mão-de-obra (25% maior do que nos EUA) vem afetando as atividades depois da porteira.
Crescem as importações de produtos processados e semiprocessados e aumenta a instalação de agroindústrias japonesas em países como China, Tailândia e Taiwan.
É uma queda crescente do agrobusiness japonês, com uma população cada vez mais sensível a preços.
Se incluídos os cereais (14%), os três principais produtos de importação representam quase dois terços de toda a importação japonesa de alimentos.
Os grupos de alimentos com maior índice de crescimento foram café e cacau (crescimento de 42,4%), cereais (38,8%), hortaliças (20,2%), frutas (15,5%), peixe e derivados (13,1%).
Somente a importação de animais vivos decresceu (18,7%) em valor, comparada com o ano anterior.
Os maiores exportadores, em percentual de valor exportado, são os EUA (27,8%), China (10,4%), Austrália (6,7%), Taiwan (6,3%), Tailândia (6,1%), Canadá (5,2%), Coréia do Sul (3,6%), Indonésia (2,9%), França (2,3%) e Rússia (2,2%).
Como resultado da decisão de emergência de importar arroz (área crítica e altamente subsidiada), devido à pobre colheita de 1993, a importação atingiu 2,536 milhões de toneladas, 23 vezes maior que a do ano anterior. Os fornecedores foram China, Tailândia, Estados Unidos e Austrália.
A importação de suco de laranja cresceu 56,2% em 1992, ano de sua liberação. Em 93, cresceu apenas 9,1%. Mas, em 94, houve um aumento de 75,1% em volume e de 94,8% em valor.
As importações do Brasil, o maior fornecedor de suco, mostrou crescimento em volume de 78,2%.
A participação, em volume, do suco brasileiro no mercado japonês atingiu 74,7%.
A importação de cerveja cresceu de forma marcante: 2,8 vezes em volume e 2,2 vezes em valor, devido a um verão excepcionalmente quente e a crescente popularidade da cerveja importada.
Bate recordes também a importação de água mineral. Ao mesmo tempo em que cai o consumo de arroz, há crescente aceitação para comidas estrangeiras, como massas, pizzas e hambúrger.

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