São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
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Receita acha 4º CPF de governador do Acre

ANDRÉ MUGGIATI; ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

ABNOR GONDIM
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, pediu ontem explicações ao governador do Acre, Orleir Cameli (PPB), sobre as acusações de ligações com o narcotráfico, trabalho escravo e corrupção, feitas por senadores do Estado. Ontem, foi localizado um quarto CPF em nome do governador.
O pedido foi feito por meio de ofício entregue depois de audiência concedida ao governador. Cameli solicitou o encontro para dizer ao ministro que não são verdadeiras as denúncias.
A situação do governador frente à Receita Federal se complicou ontem. Foi localizado o número de um quarto CPF utilizado por ele. A Receita identificou também outro CPF do pai de Cameli, que passa a ter três números diferentes.
Para o assessor de comunicação do governador, Luiz Edmundo Monteiro, “isso é papo furado”. Segundo ele, a Receita vai descobrir que o governador, na verdade, possui um único CPF.
Acusações
Com dez meses de governo, Cameli é alvo de, pelo menos, 18 acusações de irregularidades, segundo a Procuradoria da República no Acre.
Além do uso de vários CPFs, o governador é acusado de realizar obras sem licitação, montar um caixa dois na administração das contas do Estado, realizar contrabando, explorar trabalho escravo e sonegar impostos.
Na saída do encontro com Jobim, Cameli afirmou que não tem cabimento o pedido de intervenção federal no Acre apresentado ao ministro pelos três senadores do Estado -Marina Silva (PT), Flaviano Melo (PMDB) e Nabor Júnior (PMDB).
Jobim disse a Cameli que, após receber as explicações do governador, irá ao Acre para conhecer de perto as investigações feitas pela Polícia Federal.
Em agosto, um avião arrendado por Cameli foi retido no aeroporto de Cumbica com contrabando.
O governador também é acusado de tentar comprometer metade do território do Acre como garantia de um empréstimo da empresa Mobil Ami, da Colômbia.
Segundo a PF (Polícia Federal), há indícios de ligação da empresa com o narcotráfico.
O assessor de imprensa de Cameli disse ainda que o governador pretende deixar o PPB. “Ele está descontente, pois o partido não demonstrou nenhum apoio a ele durante essa avalanche de denúncias”, afirmou.
Segundo Monteiro, o PFL seria uma opção, devido à “afinidade ideológica” do governador com o partido. Nenhum contato com a legenda teria sido feito até agora, segundo o assessor.
Jornalistas
Flaviano Melo e Nabor Júnior também pediram ontem ao ministro da Justiça proteção de vida ao jornalista José Bardawil Neto, da afiliada da Rede Bandeirantes em Rio Branco (AC).
Segundo os senadores, um soldado da PM acreana colocou um saco com oito gramas de cocaína no carro do jornalista durante uma blitz realizada perto da TV União, onde Bardawil é diretor.
“Foi uma armação para tentar incriminar o jornalista”, disse Flaviano Melo. Segundo ele, a afiliada da Bandeirantes é um dos poucos veículos de comunicação do Acre que tem noticiado as denúncias contra o governador.
Além de Bardawil, dois outros jornalistas pediram proteção ao governo federal. São os correspondentes Chico Araújo, de “O Estado de São Paulo” e Altino Machado, do “Jornal do Brasil”.
No encontro com Jobim, Cameli negou qualquer ligação com as ameaças sofridas pelos jornalistas e disse ser o principal interessado na segurança dos profissionais. A mesma posição foi defendida pela deputada Célia Mendes (PPB-AC). Seu marido, o empresário Narciso Mendes, é acusado por jornalistas da Rede Bandeirantes de ter tentado jogar seu carro contra uma equipe que cobria seu encontro com o governador.

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