São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O caso Nacional

LUÍS NASSIF

Há certa confusão no ar a respeito do funcionamento do sistema bancário.
O banco capta dinheiro junto a investidores e empresta para os tomadores. Há descasamento entre as duas operações, porque parte do dinheiro captado consiste em depósitos à vista -que podem ser sacados a qualquer momento- e o dinheiro emprestado obedece a prazos maiores.
Há dois tipos de desequilíbrio nessa relação entre ativos e passivos. O primeiro, quando uma corrida bancária provoca fuga de depósitos à vista do banco. Se pudesse liquidar imediatamente o mesmo valor em créditos, o banco zeraria sua situação. Como os créditos estão amarrados a prazos, até que sejam liquidados ocorre um desequilíbrio e o banco terá de ir buscar dinheiro no mercado, a fim de zerar sua conta diária.
Se os créditos forem bons, mesmo que o rombo seja considerável, é apenas questão de tempo para que eles sejam realizados e se zere a posição.
Para essas situações, o Banco Central dispõe de linha de empréstimos concedidos por meio do redesconto. O problema é que, dependendo do grau de fuga de recursos do banco, pendurar-se no redesconto significará, numa ponta, custos punitivos; na outra, desconfiança do mercado.
Por isso mesmo, o BC tem recorrido ao Banco do Brasil para amparar bancos em situação de iliquidez, sem provocar rebuliço inútil.
O problema ocorre quando é muito alto o volume de créditos "podres" -em liquidação ou de difícil recebimento. Nesse caso, o banco tem de se desfazer de seus ativos próprios para cobrir o rombo. Se a diferença persistir, ou se encontra solução de mercado ou se liquida a instituição.
Liquidez?
Aparentemente, não é o caso do Banco Nacional -em via de ser adquirido pelo Unibanco. Diretores do banco sem acesso ao processo atual de negociações, mas com participação efetiva na condução da instituição, sustentam que o Nacional atravessa apenas problemas temporários de liquidez.
Antes do caso Econômico, o banco era credor em R$ 1 bilhão no interbancário (o mercado de troca de reservas entre bancos). Com a histeria que se seguiu, ficou a descoberto em US$ 2 bilhões -cobertos diariamente na Gerof (a Gerência de Operações Financeiras do Banco do Brasil).
Atualmente, o banco dispõe de R$ 2,5 bilhões em depósitos de pessoas físicas, mais R$ 1,5 bilhão em outros tipos de depósitos. A fuga de recursos ocorreu, basicamente, na tesouraria do interbancário e com multinacionais. Por isso mesmo -sustenta esse executivo-, resolvida a questão, em poucos dias esse dinheiro seria recuperado.
O diretor nega que o banco tenha se metido em concordatas pesadas. No ano passado, entrou em R$ 25 milhões com a CAC (Cooperativa Agrícola de Cotia) devido a um erro do gerente do posto bancário. Mas foi só e os recursos já foram provisionados.
Neste ano, entrou em R$ 9 milhões com a Casa Centro e em apenas R$ 800 mil com a Mesbla (créditos sem garantias reais).
Em 30 de junho, o banco já havia provisionado R$ 1,95 para cada R$ 1,00 em atraso -no total, R$ 366 milhões provisionados.
O diretor não descarta a possibilidade de haver algum caroço grande, que ele desconheça. Mas considera bastante improvável. Os créditos maiores são apreciados por um comitê de crédito do banco. E -segundo jura ele- em nenhuma reunião do comitê se apreciou qualquer caso mais extravagante.
Nesse sentido -na avaliação desse executivo-, a utilização do Proer só se justificaria pelo necessidade de financiamento da desmobilização do banco. Havendo a fusão entre as duas instituições, muitas agências serão fechadas, e suspeita-se que pelo menos 5.000 bancários perderão o emprego.

Texto Anterior: Chineses deixam setor público
Próximo Texto: Seguro de depósito será por cliente, não por conta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.