São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
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Construção demite mais 30,3 mil

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O setor da construção civil demitiu 30,3 mil pessoas em outubro, está atrasando os salários e nega aos trabalhadores qualquer antecipação de reajuste salarial neste final de ano.
Os demitidos ganhavam por mês entre R$ 250 (serventes, a maioria) e R$ 360 (pedreiros).
Para os que ficaram (cerca de 588 mil, o menor número dos últimos 15 anos), o salário poderá ficar congelado até maio, quando ocorre o dissídio da categoria -uma das mais desorganizadas, mal pagas e sem qualificação da economia brasileira.
"A previsão, de emprego ou aumento, é a pior possível", diz Douglas Martins, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores da Construção Civil no Estado de São Paulo.
Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado (Sinduscon), diz que as empresas "não suportariam" antecipações.
No momento, os trabalhadores negociam aumento de 10%. Pela política salarial vigente, nenhuma empresa é obrigada a dar qualquer reajuste na data-base da categoria ou fora dela -a não ser o resíduo do IPC-r até junho de 95.
"Nem se cogitam reajustes", diz Eurico Girardelli, que administra 580 funcionários (já foram 2.000 há dois anos) na Construtora Passarelli. "Há sobra de mão-de-obra no mercado", diz.
O construtor Romeu Chap Chap, que emprega 500 pessoas, afirma que as empresas já terão dificuldades para pagar, em duas vezes até dezembro, o 13º salário.
Segundo a consultoria Austin Asis, que analisa balanços de empresas, as construtoras tiveram rentabilidade (ganho sobre o patrimônio) negativa de 4,3% entre junho de 94 e junho de 95.
Zaidan, do Sinduscon, diz que os demitidos geralmente entram para o mercado informal de trabalho. Nos últimos cinco anos, o setor perdeu 512 mil empregos.
Pesquisa feita entre 150 companhias mostra que 18% delas pretendem demitir mais nos próximos meses, e que 34% operam hoje com menos de 50% da capacidade.
Juros altos, recessão, falta de obras públicas e ausência de financiamentos são apontados como causas do desemprego no setor.

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