São Paulo, quarta-feira, 15 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Flamengo e seus cem anos de glória

ZICO

Quando pensamos em um lapso de tempo de cem anos, um século, imaginamos com muita dificuldade quantas alegrias, dores e sofrimentos foram capazes de construir um passado grandioso, uma história gloriosa ou até mesmo o dia-a-dia desse centenário.
Tentamos também vivenciar aquele início, a cem anos de distância, quando alguns sonhadores fundaram o Clube Regatas do Flamengo, e tentamos mais uma vez imaginar se, mesmo sonhadores, conseguiram sonhar com uma criação tão gigantesca, tão gloriosa e, naquela ocasião, tão imensurável.
Hoje, a cem anos de distância, percebemos toda essa dimensão, sabemos das grandes lutas e dos grandes momentos, das gloriosas vitórias e das gigantescas conquistas que ano a ano edificaram a grande nação rubro-negra.
Sinto-me um grande privilegiado por ter participado de uma grande parte dessa história, aproximadamente uma quarta parte, mais de duas décadas vividas no dia-a-dia desse século, com muitas alegrias e emoções sem conta, um sem-fim de muito amor e carinho, tanto dados como recebidos.
Esse século de história foi erigido por uma enorme gama de pessoas de todas as camadas e matizes, alguns mais importantes, outros menos importantes, entretanto, todos unidos e irmanados para o mesmo objetivo e para o mesmo fim.
Eu, particularmente, sempre tive uma certa preocupação com a grande responsabilidade que pesa sobre as pessoas que detêm o respeito e a admiração de uma grande massa de pessoas, ou seja, os seus ídolos.
Entendo que essa posição, de certa forma, nos obriga a uma conduta e a um procedimento rigorosamente à altura dos anseios dessas pessoas. E assim tem sido, de modo geral.
Para não cometer injustiças com tantos outros que também tiveram conduta impecável, eu gostaria de citar como exemplo de todos aquele que foi o meu grande ídolo no nosso clube: na pessoa do Dida eu homenageio todos os jogadores do Clube Regatas do Flamengo nos seus cem anos de vida.
Todos, dos seus maiores ídolos ao mais humilde de seus servidores, cada um a seu modo e dentro de suas limitações, foram responsáveis por esse século de glórias.
No entanto, o maior de todos, o grande arquiteto de toda essa obra genial foi, sem dúvida, o universo de torcedores rubro-negros. Essa torcida apaixonada, envolvida incondicionalmente em todos os embates, sempre dando muito mais do que recebendo, sofrendo muitas das vezes, renunciando em tantas outras, sempre pronta a colaborar com total espontaneidade.
Ela, a grande torcida rubro-negra, constituída por todas as camadas sociais, é que sempre deu a real dimensão do Clube Regatas do Flamengo.
Nesses longos 25 anos de participação efetiva na vida do clube tive inúmeras oportunidades de testemunhar a força e a importância dessa imensa massa de torcedores, de seu carinho e dedicação, da sua renúncia a seus problemas pessoais em proveito dos problemas coletivos do seu clube de coração.
Nesses seus cem anos de glória, quero expressar todo o meu respeito e o meu grande amor ao clube que me projetou e onde vivi os melhores anos de minha vida, sem esquecer, de forma alguma, todo o meu reconhecimento a essa maravilhosa torcida que constitui a verdadeira "nação rubro-negra".

ARTHUR ANTUNES COIMBRA (ZICO), 42, é gerente do clube japonês Kashima Antlers. Foi quatro vezes campeão carioca e quatro vezes campeão brasileiro, campeão da Libertadores da América e campeão mundial de interclubes pelo Clube Regatas do Flamengo. Foi também secretário dos Desportos da Presidência da República no governo Collor.

Texto Anterior: Cidadania à deriva
Próximo Texto: Programa do álcool; Cultura resistente; Dúvida; Prefeituráveis; Falta de concorrência; Alarme
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.