São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Libertados, sem-terra prometem invasões

DA REPORTAGEM LOCAL

Diolinda Alves de Souza e Márcio Barreto, militantes do movimento dos sem-terra no Pontal do Paranapanema, deixaram ontem à noite a prisão com a promessa de continuar a política de invasões de propriedades rurais.
A prisão dos dois foi revogada pelo juiz da comarca de Pirapozinho (600 km a oeste de São Paulo), Darci Lopes Beraldo. A decisão beneficia também os líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) José Rainha Jr. e Laércio Barbosa, que estavam foragidos.
Diolinda e Barreto estavam detidos no complexo penitenciário do Carandiru (zona norte de São Paulo). O juiz argumenta que, resgatada a ordem pública e o Estado de Direito no Pontal do Paranapanema, as prisões preventivas se tornaram desnecessárias.
O "resgate da ordem" teria sido alcançado depois que o governo do Estado e o MST fecharam acordo que resultou na suspensão de novas ocupações na região.
Pelo acordo, o governo vai assentar 1.050 famílias na região até o final do ano e mais 1.050 até junho. Em troca, os sem-terra se comprometeram a suspender as invasões no Pontal.
Saída da cadeia
Diolinda e Barreto ficaram presos por 17 dias a mando do juiz Beraldo, que atendeu denúncia do Ministério Público.
A promotoria acusou os quatro líderes do MST de atentar contra o Estado de Direito ao promoverem ocupações de terra.
O primeiro a ser libertado ontem, às 20h15, foi Márcio Barreto, que deixou o Centro de Observação Criminológico e foi para a Penitenciária Feminina para se encontrar com Diolinda.
Às 20h50, os dois deixaram o Carandiru. Cerca de 150 militantes do MST os aguardavam. Foram recebidos ao som do Hino Nacional cantado pelos manifestantes.
À saída, Diolinda disse que as invasões vão continuar. Segundo ela, "o movimento dos sem-terra vai passar por cima do programa neoliberalzinho de Fernando Henrique e por cima da política de assentamento do Covas (Mário Covas, governador de São Paulo).
João Pedro Stédile, dirigente do MST, seguiu o mesmo tom: "Nós não podemos ver latifúndio improdutivo que entramos, é um vício".
Diolinda soube da libertação durante visita do cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, de frei Betto, e do secretário de Assuntos Penitenciários do Estado, João Benedito Marques.
Segundo d. Paulo, ao saber da revogação, chorando, ela afirmou: "É a causa (reforma agrária) que está ganhando".
Durante todo o período em que Rainha e Barbosa permaneceram foragidos, nenhuma das áreas ocupadas pelo MST no Pontal foram vistoriadas pela polícia.
Após deixarem o Carandiru, Diolinda e Barreto foram para o Sindicato dos Condutores de São Paulo (região central da cidade) para participar de uma festa para comemorar sua soltura.
Os dois líderes dos sem-terra chegam hoje à tarde em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo), onde participam de um ato público.

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